sábado, enero 22, 2011

azul

Nesse sonho que eu escrevi tinha você de novo.
Tinha saudade de você.
Eu gostava de escrever sonhos coloridos,
pois não me era nítido se eu sonhava realmente em cores.

E quis sonhar bem assim:

Você passava – você usava passar – num carro azul
da cor do seu olho
azul
que me fazia esquecer se era a luz de um dia muito claro
que deixava seu carro, seus olhos, assim.

Ao seu lado eu passava – eu usava passar ao seu lado – nublada
e gritava seu nome num ato confuso
- quem apela quer dizer -
Então você – que usava ser muito solícito – estacionava
Eu olhava para você e, no entanto, não tinha nada
a dizer

Eu fascinava sozinha

Você se aborrecia e ia embora
passando, dessa vez, para sempre
No ponto onde havíamos estacionado
eu ficava só
E de lá via que por baixo da ponte que ligava as duas cidades,
além da água muito azul, era possível ver uma construção confusa
que não me arrisco nem tentar falar do que se tratava
porque desconfio, mas não sou capaz de poder saber o que era exatamente


Nem sei como intuía que eu já sabia chegar lá
sem você
sentia medo
e, no entanto, ia
assustada.

3 comentarios:

Elton Pinheiro dijo...

"Quem apela quer dizer" é uma constatação generosa, bonita. O bom de escrever é que se pode fazer uma análise apurada sobre as coisas banais, e humanas. Toda a estrofe é interessante, leve, clariceana e aguda;.. e fica abrandada pela frase "Eu fascinava sozinha", que depois a arrebata, e quase a explica.

L. dijo...

elton, generoso é você.
não gosto desse texto: ele rasga muito, em vez de insinuar apenas.
No entanto,senti-me impelida a publicá-lo por aqui...
que pena que você bloqueou sua página. Fechado para balanço?

Elton Pinheiro dijo...

..com o fim do cd apelei para um rasgo num balancete burocrático, mas já volto; quero continuar com os 5 leitores que tenho, você entre eles.