jueves, julio 28, 2011

Parecer psicanalítico indicativo de aptidão para o exercício da vida literária

Caro Perito, devo dizer que este foi um dos laudos mais difíceis de executar. A sra. Luciana P. é minha paciente favorita, mas não posso dizer isto, senão em sigilo, para não causar ciúmes nos outros pacientes e também para não prejudicar a transferência. É um caso muitíssimo interessante. Ainda devo agradecer a oportunidade de escrever este laudo, uma vez que, na escrita do mesmo pude fechar um diagnóstico.

PARECER PSICANALÍTICO INDICATIVO DE APTIDÃO
PARA O EXERCÍCIO DA VIDA LITERÁRIA

A sra. Luciana P., compareceu em meu consultório, na presente data, com fins de realizar uma avaliação psicanalítica para o exercício da vida literária.
Devo dizer, que a sra. Luciana P., é minha paciente desde que iniciei minha vida profissional, comparecendo ao meu consultório sem disciplina e esporadicamente. Segundo a paciente relata, faz tratamento psicanalítco com um analista lacaniano duas vezes por semana, há alguns anos, paralelo ao trabalho que fazemos aqui. Diz não frequentar o meu consultório com disciplina para não atrapalhar minhas atividades com meus outros analisandos, pois, segundo a mesma define, seu caso é mesmo intratável e, por isso, não vê necessidade de apressar o tempo do trabalho que realizamos - também definido pela mesma como brincadeiras literárias. Além disso, afirma que a analista, que presentemente vos fala, precisa ganhar o seu dinheiro para pagar as contas e que se a mesma "restringir suas atividades às brincadeiras literárias ficará na lama" (sic).
Apresenta queixas diversas relacionadas ao seu comportamento diante da atividade da escrita, mas sempre se auto-depreciando. Apresenta fortes traços auto-punitivos referentes ao seu texto. Digo auto-punitivo pois é a sra. Luciana P. mesmo quem afirma que seu texto é ela.
No momento, faz uso de álcool e tabaco (parece associar essas atividades fortemente à atividade laboral, isto é, literária). Não faz uso de substâncias psicotrópicas.
Possui muitas histórias de doença mental na família, mas quando perguntada acerca de sua história familiar diz que a única doente mental grave é ela mesmo.
(Se me permitem, sinto vontade de rir muitas vezes em suas sessões, o que me coloca diante de um diagnóstico diferencial para psicose ou histeria, ainda não concluí, pois como sabemos essas estruturas suscitam esse tipo de reação no analista)
Apresenta bom potencial cognitivo e se mostra uma leitora ávida o que permite à mesma fazer interessantes associações-livres em sua análise (diagnóstico fechado: trata-se de uma histérica). Por tal motivo, mostra-se capaz de escutar as pontuações que lhe faço em análise.
Mostra-se consciente de que para adentrar a vida literária deverá investir mais tempo em seus exercícios e deverá dedicar-se mais tempo à leitura.
Sua família a apóia nessa escolha, mas não a ajudará financeiramente para realizar a atividade em questão.
Por se mostrar cuidadosa com sua saúde mental, crendo-se capaz de não misturar seus exercícios literários com o texto que escreve em sua análise (nesse ponto apresenta contradição, mas nada que funcione como impeditivo ao procedimento), por se comprometer a investir mais nessa atividade e por apresentar um bom potencial cognitivo, concluo que a sra. Luciana P. está apta, do ponto de vista emocional e nesse momento, para realizar tais exercícios.

Sem mais para o momento, coloco-me à disposição para maiores esclarecimentos,
Luciana Lima
Psicanalista.

3 comentarios:

  1. "nóis sofre mas nóis goza" (Luciana P.)

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  2. não, quem disse isso não foi a Luciana P. Foi a Luciana Lima. Não confunda as bolas!!!

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  3. surpreendente.
    vou guardar esse junto com a hilda "hitz". e alguns outros também

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