“Romeu – Sob o peso ingente deste amor pereço.
Mercúrio – Estás amando; pede a Cupido as asas emprestadas
E paira acima dos vulgares laços”
Shakespeare
Aos homens de meu tempo
Sim, somos homens mesquinhos diante das maravilhas que nos são dadas a ver e refutamos, com alguma arrogância, a humanidade que pode a palavra para ceder espaço à pequenez de realizações ingênuas, individuais.
O doutorado em Paris, a consulta com o médico famoso, o perfume importado, o marido da outra, o controle do morro x,y ou z, enfim, ávidos de ter, nós, homens e mulheres, circulamos melancolicamente sós, brilhando inúteis para o nada.
E, assim, julgamos importante e justo e digno sermos o último biscoito do pote. Fazemos isso ao alto preço da solidão, que é pesada, com certeza, para uma determinada forma vivente que se desenvolve na multiplicidade, na variedade, na diversidade.
E, então, criam-se, a todo o momento, teorias insanas e sistemas fadados, naturalmente, ao fracasso de modo a justificar todo peso mortífero e, dessa forma, quase que mecanicamente e em sequência, inovam-se as recompensas para o dito sacrifício. Cria-se o sacrifício do herói – “só ele e Deus sabem como dói”. Não ao acaso: ele envolve a forma mais covarde de alienação. Ele se move através do medo e o medo, nunca é demais lembrar, só existe porque os homens existem.
Ávidos de ter, homens e mulheres, destroem o que lhes resta de mais íntimo, de mais próprio: isolam a técnica da poesia e vice-versa. O jogo mais sofisticado que se pode realizar com a matéria-prima palavra cai em desuso, desmorona-se, vira ruína.
Freqüentemente, não encontramos formas adequadas, justas, de escrever o amor, por conta de nossa incompetência, nos abandonamos, então, à própria sorte atribuindo tal fato à impossibilidade de tudo dizer, desculpando-nos, esfarrapadamente, de nossa impotência para nos mantermos nela.
Nos conformamos facilmente com o real ou melhor com aquilo que julgamos real. Não queremos nos defrontar com mais nada. Perdemos amigos, amores, famílias inteiras por pura inaptidão na insistência. Não existe tempo para insistir.
Mascaramos nossas limitações com nomes de modernidade, pós-modernidade ou coisa que o valha. Retornamos em gozo a mais primitiva condição humana: estamos desamparados.
E, dessa maneira, nos amesquinhamos sós em nossos pequenos universos, trabalhando duro, efetuando dietas desumanas com produtos que levam, adequadamente me parece, o nome de ração, para não dizer da manutenção sórdida de relações tóxicas tendo em vista sempre...
o desamparo. É fato: nos tornamos obcecados pela derrilição.
Somos grandes intelectuais e, ao mesmo tempo, nos lançamos de maneira desmedida, pouco elaborada, de pontes, apartamentos, hotéis.
Esperamos por Mercúrio, desejamos o amor e, ao mesmo tempo, dispensamos quase toda nossa atenção aos laços vulgares.
P.S. Calvino, my boss, pesei a mão. Não se revire no túmulo: é só um de tantos exercícios.
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