"Le non-dupes errent"
J.L.
Meu pai me carregava pela mão
e mantinha longe de mim o seu olhar:
eu tinha fé de que também iria me apaixonar,
apesar de achar baixo o Cristo na cruz.
A cidade, onde eu costumava acompanhar a procissão,
era fria, mas me enchia
de esperança: o amor é quente e protege.
Você precisa me dizer o que você quer de mim
Você precisa se decidir
Meu coração é grande, mas não é apropriado para ele
o colorido dessa data
Era muito nova
e já sabia das revelações que pode a palavra,
No entanto, desconhecia a origem grega da paixão.
Achava peso a coisa mais bonita de se ver, porque mais profundo,
ignorante dos enigmas, dos mistérios gozosos.
Quando me olha, ainda me desconserta:
tenho certeza de nadas.
Uso me alimentar de luz e palavra.
Vivo febril pelos cantos,
Adoecida.
Crescida descubro que paixão é mal de amor
E, no entanto, até os não-“pathos”, aparentemente livres desse mal,
esses também erram.
O espelho mostra que ainda
“sou pequenininha do tamanho de um botão”
Você escutava o som da água do mar
E queria guardar o ruído para sempre
Inocente de que seu barulho nunca é o mesmo
De mar eu era entendida
Mas, por adorar você gostando tanto dos sons do mundo,
patheticamente, caía na sua conversa
fiada num outro tempo
guardava o inguardável
Volto à casa de meu pai,
não vejo o pé de amora,
nem os tecidos cor de rola que vestem os santos.
A casa ficou moderna:
não se guarda mais dor nela,
não se cultua qualquer forma de paixão assim.
De preto passei ao roxo,
de roxo passarei ao rosa
e todos os meus rosas avermelhar-se-ão,
assim que você entrar,
pela porta de minha casa.
"A casa ficou moderna:
ResponderEliminarnão se guarda mais dor nela,
não se cultua qualquer forma de paixão assim."
isso me lembra o barro vermelho (e todas as outras casas que para mim são o barro vermelho mais elaborado).
a paixão cultuada, vivida, experimentada mesmo no último verso espécie de contraponto com o que é "moderno" (no contexto do teu poema) tem uma bruma drummondiana, como num poema chamado "a mesa", no livro "claro enígma", onde a paixão (família, casa... mesa, irmãos, a presença do pai)é conhecimento de uma dor: a qual as coisas novas parecem não saber reconhecer. ...essa dor cheia de silêncio e elegância que por vezes não se pode dizer que dói; parece mais uma coisa inscrita, uma coisa sem nome que usa por vezes o nosso e o das coisas que existem sem ele também. a literatura é um pouco da procura disso, enquanto no mais se procura o "moderno".