À você, por me ajudar a escrever
Seu texto reverbera em mim como a estrada molhada, mediando coragem e coração. Pontos c de ancoragem. Meu pai dizia: "vá, filha minha", jamais cedendo ao desamparo em mim se fazendo presente. Minha mãe, por sua vez, me dava saias sempre que eu resistia: "saia daqui, já". Os argumentos das mulheres modernas de minha geração e da derrilição tão necessários ao caminho que já se fazia no meu corpo adolescente: querendo, querendo.
Olho a estrada como um animal que contempla sua presa antes do ataque. É verde a estrada, mas só vejo um deserto de caminhar só e desejo uma alucinação, um ponto c para começar. É c de começo agora.
Meus dedos têm pressa de escrever o que o tempo fatalmente me trará. O tempo me tratará, eu ia dizer, amansará a fera apaixonada que carrego e que usam, as pessoas que me cercam, gostar: a sintomática, a passional, assim eu definira Luciana P.
- Porra, agora não, tô escrevendo.
E me vêm demandas enormes de trabalho: textos técnicos, textos humanos para escutar, laudos, pareceres. Mas Luciana P., sobrevivente que insiste, querendo trabalhar diferente aqui nessa folha que lhe dão para faturar suas escutas: código do procedimento, descrição da atividade, CID.
Rabisco Il no papel prensado de todo tamanho e não respeito essas margens. Palimpsesto do meu desejo sobre o meu outro desejo: escrever e escutar o que escrevem. Me dizem para não escolher ou um ou outro e perguntam porque não pode ser um e outro. Respondo que falta o tempo, que me tratará, passar. Anyway, resolvo caminhar na estrada molhada sem olhar para trás. Pai e mãe cada vez mais para trás. Coração berrando adelante.
Eu mergulho na insensatez do deserto verde para devorá-lo. Rápida. Certeira.
Agora o c de certeira me impede de desviar o olhar.
Chove no deserto verde e vejo Il, palimpsestado sob a forma c, em tudo.
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