jueves, diciembre 01, 2011

travessia te-me


Receio abrir a porta e encontrar Mariana esperando por mim. Resolvo que não devo abrir agora com o único objetivo de testar minha capacidade de suportar que o outro me espere - coisa que durante tempos não pude fazer com tranquilidade, pois o pedido do outro me enchia de urgência e ansiedade.
Aprendo, escrevendo, a deixar me esperarem e invento mais um sonho que gostaria de ter tido...

Você surge tampando meus olhos - ainda não sei quem é. Engraçado, porque a brincadeira de fechar os olhos de alguém e perguntar "adivinhe quem?" - minha marca registrada - vira nesse sonho coisa sua. Ainda não sei.
Sinto seu cheiro, os pêlos nos braços que você não tem e um único brinco na orelha (direita ou esquerda?) e digo assertiva, quase escandalosa, sobre estar morrendo de saudade.
Você então me levaria para aquele nosso lugar - que pode acontecer a qualquer hora, até mesmo num sonho inventado. Eu iria bancando a corajosa, fingindo que não tenho medo algum da corrupção pessoal a que todo ser de linguagem está sujeito.
Você me olharia nesse sonho impossível com paciência e se interessaria pelas minhas voltas, floreios, prolixidades.
Eu te diria, para nossa surpresa, objetivamente, uma coisa sentida e nunca dita: antes de te conhecer e te perder em seguida, só conhecia teoricamente a marca da falta.
Nesse ponto você avançaria o sinal e, apesar de eu reconhecer meu desejo de me perder, ponderaria acerca de um preço, caro esse preço, justo, aliás, justíssimo - você completaria - momentos antes de me render (rendar eu ia dizendo) e topar terraplanar meu orgulho com uma retro escavadeira de última geração.

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