Ela entra porta adentro dizendo que depois de anos encontrou a "assombração" na praia e não sentiu nadinha. Que estava finalmente curada daquele amor. Ela ainda não sabe que o amor se repete.
Eu aguardo porque sei que ela precisa entender isso por conta própria. Mas estou ali, de ferro. Destaca o "depois de tantos anos". Dá o número exato. Me transporto pro deserto tentando encontrar algum objeto que represente aquela quantidade de anos para mim.
Encontro o casaco pendurado na cadeira que usei pela primeira vez quando conheci um rapaz divertido que só me chamava pelo nome da ex-namorada e, em seguida, se desculpava alegando que nossos nomes eram muito parecidos, daí o equívoco.
Eu fazia à época a mesma cara de paisagem que fiz com essa moça porque não queria perder companhia alegre daquelas. Mas um dia o real trola todo mundo. Não tem jeito. E lá vai o sujeito se virar com isso.
Aprendo, Il, finalmente que é preciso fazer o luto do romance. Ver as coisas de longe, letradona, pra não morrer de desgosto.
Aceito o convite pra ver o mundo com os seus olhos porque tenho vocação para isso, mas não me engano mais. Posso até dar a tal volta no mundo com você sem sair do lugar, mas sei que o despertador, indócil que só ele, vai me tirar, mais cedo do que gostaria, de minhas experimentações em Atacama.
A lavoura de café que tirou a minha gente do velho mundo mora em mim. Não me perco mais. Tenho corpo de terra. A esperança que os trouxeram e a desilusão com que se depararam é uma herança dura.
Sei também que a fantasia da musa que tanto quis, me ensinou. Eu lia o Reinaldo aos quinze e quis ser Jose pra alguém. "E pronto. E prosit. E Jose. Quebra-se o gelo". Sonhava com isso. O cantador se satisfaz com a musa e a musa com a sua fantasia. Tombado o espelho e avistada a ilusão que nos constituiu, o que fica?
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