Antonio,
É de se saber que a agonia não está só do lado de quem fica, mas também de quem vai. E depois, querido Antonio, quem partiu para longe foi você. Os caminhos mais difíceis foram os de crescer só, depois de sua ida Antonio. Mas é preciso alucinar, querido, delirar é necessário. E você vê o que criei para dar conta da vida depois que você se foi. Ah, Antonio, fiquei insuportável com todas aquelas manias...não venha me dizer, Antonio, aliás que autoridade você tem para me cobrar explicações? Com que autoridade, você reinvade minha existência? Ora, Antonio não existe mais eu e você e ainda que nos encontrássemos não existiria mais eu e você, porque eu não sou mais eu e muito menos você é você. Antonio, Antonio...faz tanto tempo...nós mudamos tanto. E a cada momento que lhe escrevo é como se tentasse repetir a mesma angústia feliz de quando nos encontramos e não éramos nós ainda e eu era apenas eu e você era você. Uma simplicidade de dar medo, Antonio. Porque não acredito na simplicidade da vida, se ela vem, me cubro de medo e inverdade. A vida tem que ser complicada, querido, para não pensarmos nela e sim nos problemas que ela nos coloca. Pensar na vida, crua é uma dor crua da mesma forma e não faz o menor sentido, você percebe?
Não queria dizer isto, mas se é para colocar as cartas na mesa, devo confessar que estava esperando um dia pelo reencontro. E eis que ele se impõe: para mim, para você. O que somos nós, Antonio, após a morte? É possível que depois de tudo o que fizemos, simplesmente nós nos afastemos para nunca mais? É isso mesmo, Antonio, para nunca mais.
Deixe sua mulher e seus filhos, e vem, Antonio, pelo menos por um dia reencontrar aquilo que você nunca teve: uma Sofia incendiada. Olha o que eu me tornei, querido, aquilo que você me pedia e eu não pude, naquele momento, ser.
Mas, não. É melhor que não venhas. Ter o que se quer é o aniquilamento total. É morte certeira. É preciso que não tenhamos o que queremos para que a vida caminhe, sempre na ilusão de que um dia conseguiremos. Não estou falando Antonio desses quererezinhos cotidianos, é de outra coisa que lhe falo.
Já não sei mais o que digo Antonio. Um vinho barato me sobe a cabeça e me convida a sair e dançar por aí...
Sofia
É de se saber que a agonia não está só do lado de quem fica, mas também de quem vai. E depois, querido Antonio, quem partiu para longe foi você. Os caminhos mais difíceis foram os de crescer só, depois de sua ida Antonio. Mas é preciso alucinar, querido, delirar é necessário. E você vê o que criei para dar conta da vida depois que você se foi. Ah, Antonio, fiquei insuportável com todas aquelas manias...não venha me dizer, Antonio, aliás que autoridade você tem para me cobrar explicações? Com que autoridade, você reinvade minha existência? Ora, Antonio não existe mais eu e você e ainda que nos encontrássemos não existiria mais eu e você, porque eu não sou mais eu e muito menos você é você. Antonio, Antonio...faz tanto tempo...nós mudamos tanto. E a cada momento que lhe escrevo é como se tentasse repetir a mesma angústia feliz de quando nos encontramos e não éramos nós ainda e eu era apenas eu e você era você. Uma simplicidade de dar medo, Antonio. Porque não acredito na simplicidade da vida, se ela vem, me cubro de medo e inverdade. A vida tem que ser complicada, querido, para não pensarmos nela e sim nos problemas que ela nos coloca. Pensar na vida, crua é uma dor crua da mesma forma e não faz o menor sentido, você percebe?
Não queria dizer isto, mas se é para colocar as cartas na mesa, devo confessar que estava esperando um dia pelo reencontro. E eis que ele se impõe: para mim, para você. O que somos nós, Antonio, após a morte? É possível que depois de tudo o que fizemos, simplesmente nós nos afastemos para nunca mais? É isso mesmo, Antonio, para nunca mais.
Deixe sua mulher e seus filhos, e vem, Antonio, pelo menos por um dia reencontrar aquilo que você nunca teve: uma Sofia incendiada. Olha o que eu me tornei, querido, aquilo que você me pedia e eu não pude, naquele momento, ser.
Mas, não. É melhor que não venhas. Ter o que se quer é o aniquilamento total. É morte certeira. É preciso que não tenhamos o que queremos para que a vida caminhe, sempre na ilusão de que um dia conseguiremos. Não estou falando Antonio desses quererezinhos cotidianos, é de outra coisa que lhe falo.
Já não sei mais o que digo Antonio. Um vinho barato me sobe a cabeça e me convida a sair e dançar por aí...
Sofia

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