lunes, agosto 08, 2005

O GOSTO DO DESCABIDO


Antonio,
Deita e prova comigo o gosto do não-sabido. Alheio e antipático permanece o seu olhar, não é de querer o mal, é de querer o lá. Tão distante e inapreensível...Que gosto teria o descabido? Não é de medo ou turbulências: o desencontro é pontual - cabe um lugar nessa tua ausência. Antonio, a vida é tão simples e sem sal que floriamos bem com complexidades, dores e um peso mortal. É de se saber, Antonio, não existe feito sem produção de mal. Um mal-estar tão necessário, tão natural que passaria despercebido, não fosse um terror persistente do cotidiano, do habitual. É preciso fazer razão nessa dispersão que é o viver. É preciso doer. Deita, Antonio, e prova comigo o gosto do não-sabido. Não é de camas ou sentimentos o deitar desse momento. É um tombar tão específico e tão extremo que invejarias em mim a delicadeza do meu intento.
Se és atento entendes:
Antonio, deita e prova comigo o gosto do descabido.

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