martes, octubre 18, 2005

Sobre o medo de mim ou Carta à Andrea.

Eu combino demais com o medo – pensei. Deveria ser a resposta de uma carta. Fico lembrando aquela cara de espanto e uma dor na barriga que desde muito cedo me acompanham. Acho que desde muito antes de existir uma idéia de mim. Fica sempre um medo. Uma vez alguém para me acalmar disse que devia ser assim mesmo, que o novo trazia medo, que era natural. Mas e daí? Isso absolutamente não resolve a minha vontade de temer. De ter medo, assim é melhor. Existe uma imagem – continuaria - que sempre insiste em comparecer: sou eu pulando uma janela e ficando estatelada, de cabelos grandes, os olhos bem abertos e a boca seca. É tão engraçado porque eu nunca sei do que fujo. Mas eis que se desvela uma verdade: é uma fuga! Talvez como aquela vontade de viajar. E me vejo embaixo da mesa da sala pensando, pensando, pensando. Tem um gosto danado nesse pensar. Não é uma grande pergunta filosófica que se faz, mas umas perguntinhas sem cabimento. Dizem que é bobeira de quem não quer fazer. Nada. Mas o que há de se fazer? Sinto o maior prazer nesse fraquejo, nisso que faz parar pra pensar. E paralisa. Às vezes, sabe – disse assim sem dar muita importância – gosto de paralisar. “ Não me diga?”. Gosto mesmo.
E te diria sinceramente que eu combino demais com o medo, não fosse o próprio movimento do medo em mim. Ele pode ser tão destrutivo e violento que me lanço na arrogância de não precisar de ajuda. Corro de medo, sozinha, pouco à vontade. Morro de medo de mim. Quando corro é de mim que eu corro.
Ninguém combina com o medo.

3 comentarios:

Anónimo dijo...

acho que tbm já tive muito medo. Tbm achei que gostava do medo. E que gostava de ficar pensando. Mas agora estou com medo disso ser só uma desculpa pra não ir lá e fazer... Aí, estou tentando meter a cara. Até agora continuo com bastante medo... vamos ver... mas eu vou finalmente tentar. e foda-se.
é disso que vc tá falando, não é?

Anónimo dijo...

acho que um pouco do medo é fundamental, o problema é quando ele paralisa. Já me paralisou muuuuuuuuuuitas vezes. Acho que não paralisa mais tanto. Ou eu ando fugindo do que me paralisa para fazer aquilo que posso. Acho que é isso. A gente faz o que a gente pode, mas é legal insistir um pouco mais e tentar avançar o limite. Daí vem um medo. Mas no final das contas não tem como racionalizar muito essas coisas...
acho que é disso que eu tava falando mesmo
bjo rafa...

Anónimo dijo...

Eu acho que o que dá prazer é a entrega.
Quando a gente vê aquilo com clareza e a deixa a coisa tomar conta, inteiramente. É um luxo poder se entregar a uma direção só, seja a do medo, do amor ou de um trabalho. Normalmente o que sinto é a tensão, ficar desequilibrando pra andar no caminho do meio, o quase conseguir, o quase certo, mas com riscos te atrapalhando. O medo é uma ilha, uma parada no meio do caminho, uma roupa de invisível. Eu também parto pra arrogância que combina com ignorância. A grande saída é saber fugir pra onde.
beijo.