Se ele não tivesse deixado um fio lá atrás para aquele telefonema às três da madrugada de hoje diretamente de Salamanca dizendo que sofria muito a falta dele, eu jamais confirmaria a suspeita da continuidade inquebrantável de seu tempo. Eu desconfiava mesmo. Trejeitos no falar, brincadeiras específicas, as roupas, as fotos, os lapsos. É que existe sim um passado inquebrantável, uma memória persistente, uma força que trabalha sempre no sentido de retornar para ele, a namoradinha mexicana dos tempos da faculdade. Eu não senti ciúme nem nada e achei estranho a compreensão que me prestei justo naquele momento de amor [ minha não compreensão]. Talvez eu não estivesse mesmo ali, talvez a voz dela me lembrava a bisa: "el camino", talvez eu tivesse chegado tão perto da idéia de um retorno contínuo que não mais julgasse.
Era um momento de nobreza e inteligência de minha parte diante da dificuldade por ele encontrada. Raros, eu diria, apaixonada que sou, tomada que levo a vida, noutros tempos viraria a mão na cara e saíria com lágrima no rosto, mas superior, batendo em retirada. Mas não houve nada disso. Eu acho que o motivo era aquela moça mexicana. Eu gostava da voz dela e mesmo sem conhecer (?) acontecia de buscarmos simultâneamente um olhar comum.
Inquebrantável relativo ao que não se dobra nunca e vai em direção ao que não se sabe, mas em persistência e firmeza.
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