lunes, febrero 18, 2008

el pesadelo de Ramona

Berni morreu dois anos antes de minha existência e seria despretencioso não acreditar que Ramona era eu, bem antes de meu nascimento. Quando vejo os amigos de Ramona sinto a selvageria que pode ser o sujeito munido de fragilidade e o meu coração só com muita água de açúcar e passado, talvez, umas quatro ou cinco horas pode se acalmar se eu vejo Ramona sendo devorada pelo monstro pós-moderno (ou seria hipermoderno?) e isso tudo porque Berni morreu um ano antes de meu corpo começar a ser formado e essa bobagem de discussão sobre a pós, hiper, mega modernidade. O que me interessa no pesadelo de Ramona é o que atualiza aqui nos meus botões, nos neurônios que sobreviveram à prostituição que é precisar de ter uma casa, comida e no futuro, quem sabe, filhos. Berni me devora com aquela mulher. Ramona, inevitavelmente, sou eu. Essa hora em que uma pessoa mais pode se aproximar do que é. Eu precisei mudar de país e viajar por sete dias e sete noites para encontrar Ramona de Berni. O engraçado é que as pessoas passavam em frente à voracidade do monstro e só as pernocas da Ramona pra fora. Riam-se com cara de "que sujeito mais maluco, coitado". Aquela mania horrível que as pessoas têm de se apiedar daquilo que julgam diferente. Como alguém pode rir do pesadelo dessa moça. De lá eu não pude trazer uma imagem para comprovar e é possível que Ramona de Berni seja a mais pura miragem. É possível. Volta-me Ramona com o último pesadelo e não encontro nos sites de busca da internet a moça sendo engolida. Você sabe como é: a gente quer ver de novo e de novo. Mas nada da devorada, só da costurera. Esse destino de costurar. Mas espere um pouco, só um pouquinho mais de fé e voilá.

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