Vamos brincar que você não me conhece, certo? Nunca me viu na vida, não sabe o que eu faço e o que eu não faço. Aquela história de eu sou do povo eu sou o zé ninguém. Então você entra na minha casa, vai até a biblioteca e olha uns livros meus. Não, não, se você não me conhece como você poderia entrar em minha casa? Você vai até a minha casa porque você é técnico da rede velox de internet e eu sou uma dondoca que não sabe consertar o sinal da internet pelo 0800, então eu dou um petit e exijo que me mandem um técnico pelo 0800, caso contrário terei de chamar minha advogada (como se eu tivesse uma) - aquela histeria classe média. E você é técnico de velox e gosta de literatura ao mesmo tempo e você entra na biblioteca onde fica o meu computador e, no que eu distraio, começa a verificar as obras que possuo (ou que me possuem ainda não sei). Não, não, essa do técnico da velox também não dá porque ele não tem intimidade suficiente. O que aconteceu, e agora vou explicar, é que existia um estranho mais íntimo que admirava a minha pessoa eu sei lá porque e eu a dele pela inteligência, simplicidade, carisma e elegância. Mais do que abrir as portas da casa, abri meus textos (estas porcarias, mas minhas porcarias) e ele que nutria uma admiração totalmente (com o perdão da palavra) imaginária, ele, na verdade, gostava mesmo do my sense of humor e só, das minhas chacotas sobre a condição humana (a minha condição humana) e eu entusiasmadíssima resolvi abrir o meu lixo precioso. Não existe final menos dramático para isso. Ele precisou ir embora, mais do que precisou, na verdade, ele quis. É justo. Eu que deveria parar com esse pensatório e esquecer esse cara da velox, esse técnico leitor, esse estranho-íntimo e ir procurar alguma boa conversa na praia, tomar uma cerveja como um bom brasileiro e curtir o sol. Hoje é um sábado depois de carnaval, faz sol, são cinco horas da tarde no Brasil e eu deveria mesmo estar na praia. Mas eu quis brincar de desconhecido. Perdi a praia e a brincadeira. E se você reparar bem eu só consegui contar na terceira vez porque teve um tom de "eu vou explicar" que me oprime e me liberta: depois de velha, fiquei com essa mania de entender e não existe nada mais surreal do que a brincadeira. Lembro do meu irmão que numa época da infância dele deu de querer morar na Antártica e da hora que ele acordava até a hora em que ia dormir ele ficava colocando e tirando seus bonecos, carrinhos, cartinhas da escola no congelador - para o desespero de minha mãe que tentava brigar, mas ele ria e dizia: "Ah, Mãe é que agora estou passando uns tempos na Antártica". Acho que minha mãe não brigava, pois pensava que ele tinha algum retardamento mental e então se apiedava. Esse meu irmão sabia brincar. Quanto à mim, despeço-me do técnico da velox pego agoro os meus brinquedos e saio da rodinha.
sábado, febrero 09, 2008
"(...) se não você sabe brincar, pegue os seus brinquedos e saia da rodinha"
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3 comentarios:
Apesar de saber de todas as limitações do entender, estou eu aqui a quebrar minha cabeça buscando um entendimento que não se fez....
explica vaí...
hago mi comentario:
é que eu não sei brincar de esconde-esconde e a explicação "vareia" dependendo do interlocutor, muda muita coisa sim, muda a forma, que é tudo. Explico que identificação é fundamental. Ahora.
Mas eu não estou a me esconder. O anonimato me veste e me revela. Ou será que ser anonbimo não é uma forma de identificar-se. Explica pro anonimo aqui vai....
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