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E você se chamará Pedro.
Pedro,
Hoje fiquei pensando, como de costume, no que disse aquela moça loira e agora tudo parece muito claro [É como se a dor mediasse o meu contato com o mundo sempre]. Existe um outro jeito? Existe um outro jeito. Pelo menos, foi o que ela disse. Existe dor em adorar, se você olhar com calma. Em dormir também tem. Aquela moça, Doralice, é pura dor. "Vamos comer uma moqueca de dourado?" Aí já não tem mais. Existe um fio condutor entre essas coisas, você sabe, Pedro. Eu morro de rir, porque a minha possibilidade é bonita e é simples também, sem grandes complexidades. Numa dedicatória de livro já me deram isso. [Recorro à instante, digo, estante e pego o livro: não é nada disso. Quem é simples é Macabea, só me desejaram ficção - "Lú, que a ficção sempre tenha lugar em sua vida." E tem].
Pedro, é mais fácil apazigar uma dor, do que doer uma alegria. Mas não tenho muito claro se o trabalho é sempre nesse sentido.
Hoje eu acordei tarde e eu tinha um dia inteiro só pra mim. Você sabe o que é isso? Também sei que não existe nenhuma correspondência possível, nesse caso. Eu quero ser de novo uma adolescente de short marrom e blusa cor de abóbora dormindo o sábado inteiro no sofá.
Pedro, eu queria agora apenas a presença da sua inteligência suposta por mim para prosear. Mas você já sabe também que ouvido de sonso não tem dono.
E dono tem dom e não dor.
Eu colhi o dom do seu ouvido, meu querido Pedro.
Agradecida.
2 comentarios:
Vontade imensa de escrever bonito assim... Moça, você tem um dom... As palavras ganham vida por aqui.
Tudo na vida podia ser assim: aprendo beleza.
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