lunes, diciembre 14, 2009

blusa de lesie

Ganhei uma blusa de lesie em formato de florezinhas que minha mãe guardou da época em que ainda não era casada
Disse que me deu porque não queria deixar a blusa estragar na gaveta
Expliquei: ô mãe, não posso aceitar porque eu já sou casada
e ela sorriu e pediu que aceitasse sem fazer tromba

brigamos uma noite inteira
o fim da batalha era o mesmo
mas era preciso que brigássemos uma do lado oposto da outra para ver quem era a mais forte
acertei em cheio o coração dela
profanei com ele o leito dela
e esse golpe era pior do que a própria morte
ela sabia que estava ferida para sempre
mas restava a ela a vingança
duas mulheres brigando é guerra de fim de mundo
pediram que parássemos naquele instante
mas não nos era possível
o mundo era para mim e para ela a nossa guerra
levantei uma bandeira branca enfiada em pau forte
dei um reino todo para ela
e fugi com ele
sabia que era uma trégua digna, adequada
mas a guerra não tinha acabado

minha mãe dizia que não era letrada como eu
no entanto, era fato, lia muito melhor
penetrava nas páginas mais herméticas
e tirava compreensão
ao passo que eu ficava engasgada nas saias
barras de saia de mãe

ele quer amiga e não mulher
mas a mulher que insiste nela vai vencer
fingindo perder vai vencendo
fingindo não ser quem é vai ganhando areia
vai ganhando a terra que
é de ninguém
terra sem lei é a terra da mulher

vestia a blusa de lesie
e agradecia mil vezes à mãe de existir
muita letra é bobagem
pouca letra é o que honra
daí enfeita de lesie bem branquinha
querendo desaparecer
mas fazendo aparecer mil buraquinhos

miolo de flor

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