Ganhei uma blusa de lesie em formato de florezinhas que minha mãe guardou da época em que ainda não era casada
Disse que me deu porque não queria deixar a blusa estragar na gaveta
Expliquei: ô mãe, não posso aceitar porque eu já sou casada
e ela sorriu e pediu que aceitasse sem fazer tromba
brigamos uma noite inteira
o fim da batalha era o mesmo
mas era preciso que brigássemos uma do lado oposto da outra para ver quem era a mais forte
acertei em cheio o coração dela
profanei com ele o leito dela
e esse golpe era pior do que a própria morte
ela sabia que estava ferida para sempre
mas restava a ela a vingança
duas mulheres brigando é guerra de fim de mundo
pediram que parássemos naquele instante
mas não nos era possível
o mundo era para mim e para ela a nossa guerra
levantei uma bandeira branca enfiada em pau forte
dei um reino todo para ela
e fugi com ele
sabia que era uma trégua digna, adequada
mas a guerra não tinha acabado
minha mãe dizia que não era letrada como eu
no entanto, era fato, lia muito melhor
penetrava nas páginas mais herméticas
e tirava compreensão
ao passo que eu ficava engasgada nas saias
barras de saia de mãe
ele quer amiga e não mulher
mas a mulher que insiste nela vai vencer
fingindo perder vai vencendo
fingindo não ser quem é vai ganhando areia
vai ganhando a terra que
é de ninguém
terra sem lei é a terra da mulher
vestia a blusa de lesie
e agradecia mil vezes à mãe de existir
muita letra é bobagem
pouca letra é o que honra
daí enfeita de lesie bem branquinha
querendo desaparecer
mas fazendo aparecer mil buraquinhos
miolo de flor
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