martes, enero 19, 2010

carteira assassinada

"Mais vale passar por insubordinado do que por incompetente."
In: Ana Terra - Érico Veríssimo
A carteira de trabalho do poeta foi assassinada
Justificou-se ausência de perfil para o cargo pleiteado
Argumentou-se acerca de sua alta qualificação curricular no quesito humanismo
favorecendo a incompatibilidade salarial ofertada pelo empresariado
O poeta passou a trabalhar como freelancer, espécie de táctica de sobrevivência na selva, forjada no século XXI, quando se desconfiou que era preciso insistir em dizer mesmo os rumores apontando que tudo já havia sido dito e escrito.
Um velho sábio do referido século precisou situar sua civilização acerca da novidade inventada:
Normalmente um freelancer tem horários de trabalho mais flexíveis e permite um engajamento maior em projectos que demandam uma dedicação diferenciada, visões mais abrangentes ou independentes da cultura organizacional dos clientes. Por ter a possibilidade de vivenciar continuamente projetos em diversas empresas, acaba tendo uma percepção mais geral do mercado.
E insistiu naquilo que na época tornou-se profecia:
A actividade do freelancer concentrar-se-á, sobretudo, no ramo da comunicação.
O poeta, então, deixou sua marca no mundo desorganizando o que era compreendido como vantajoso no jogo de espertalhão (1). Finalmente conseguira ser desonesto, corruptível. "O poeta também tem seu preço" - concluiu. Aí nesse ponto ele pôde morrer.
E renasceu no ódio do jovem poeta que pôde ler (2) a banalização do freela.
(1) Jogo de Espertalhão - Esse tema será abordado mais adiante, por enquanto, podemos nos concentrar na idéia, ainda incipiente, de que o jogo de espertalhão relaciona-se a complexidade assumida pela atividade de subversão da língua, mas o jogo não se restringe, obviamente, à poesia.
(2) Ler, Leitura - Actividade que foi se escasseando no final do século XX e início do século XXI por ser considerada marxista e, portanto, fora de moda.

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