martes, abril 13, 2010

sobre formigas, argumentos e miopia

Já perdi as contas das vezes que os meus argumentos me paralisaram. Pensava em milhões de possibilidades e os argumentos que utilizaria em cada uma delas. Acho bonito demais quem sabe argumentar. Mas não os argumentos prontos e ensaiados das bancas de mestrado, das audiências jurídicas ou mesmo das eleições políticas.

Argumenta-se frequentemente bem...mal acerca do que move o homem no desejo de argumentar a favor do desejo que lhe é próprio, que lhe é íntimo.

Penso agora na imagem daquele que na maior parte das vezes se mantém mudo e que eventualmente é tomado de um desejo tão legítimo de dizer. Que não se confunda o mutismo com o silêncio. Penso agora naquelas pessoas palavrosas que falam e falam e falam, mas nada dizem. Essas também, não as subestimem, estão sujeitas à força de um argumento íntimo e sempre legítimo.

Da distância da tela da máquina aos meus olhos existe uma deturpação no sentido do que é estipulado como normal. Explico: escrevo sem meus óculos que teoricamente corrigem o erro de ver um mundo preparado para aqueles que invariavelmente vêem o comum.

Não me considero superior por ver assim. Eu até gosto da correção que essas lentes me proporcionam.

O meu argumento para usar os óculos tem a ver com a vontade que sinto em me inserir na vida comum. O argumento para minha miopia ainda é nebuloso para mim. Acho que sou movida de uma profunda preguiça de ver, pensar e refletir lá na frente. Ando muito comprometida com o presente que construí para mim. E nos últimos tempos, ver lá na frente tem me soado frequentemente de uma paranóia sem precedentes.

Argumentar o fato de eu achar a formiga o bicho mais incrível desse planeta já me deu muito trabalho. Sobretudo quando escrevi um texto sobre e o vi publicado na internet com autoria desconhecida. Doeu em mim porque não tenho um narcisismo tão desbastado para suportar tal fato. Mas o interessante é que não precisou do meu nome para que sua validade e potência fosse transmitida em rede nacional.

Posso falar longamente o quanto acho incrível a supercolônia de formigas que possui uma extensão de 6 mil quilômetros começando no noroeste da Espanha, descendo até Portugal, entrando na Espanha novamente pelo sudoeste e se estendendo pelo litoral até o norte da Itália, passando também pela França. Aprecio essas moças e a irritação que meu irmão me causava, quando em criança querendo me magoar, segurava-me pelo braço e pisoteava os formigueiros da minha casa, é impossível de descrição. Imagino que se ele não impedisse aqueles formigueiros quem sabe se elas escolheriam a minha casa para iniciar a supercolônia que desenvolveram na Europa. Vai saber...

Os meus argumentos sobre as formigas podem até culminar em choro [não riam, nesse momento eu rio] porque sou tomada de uma profunda paixão por esse tema e quando fico apaixonada meus argumentos me ultrapassam, querendo extravasar o meu corpo em formato de lágrima.

Argumentar é ridículo assim. E eu especialmente tenho enxergado o ridículo frequentemente como uma possibilidade de estar no mundo. Isso é da maior seriedade.

O fato é que ficar cercando todas as possibilidades com argumentos inacabáveis absolutamente não me dá a chance de deixar aparecer o argumento mais verdadeiro que é aquele que estilhaça o silêncio e se afirma com violência, desestruturando maneiras de pensar dantes nunca imaginadas como apenas maneiras de pensar e sim como verdades.

Acho que agora argumento em favor de uma forma de transgredir formas. Eis o movimento desenvolvido por aquilo que fora convencionado chamar arte.

E eu, apoiada em milhões de outras pessoas mais estudiosas e eficientes na tarefa de pensar, sei que a transgressão movimenta a vida e lhe dá sentido e lhe quebra sentido e a coloca a realizar o seu principal papel: viver e fazer viver.

Quando formigas constroem supercolônias unindo a Espanha, a Itália, Portugal e a França, minha gente, destruindo barreiras inventadas que tantas e tantas vezes tomamos como verdade e afirmando um território novo e próprio, isso faz pensar. E é só isso que importa ao bom argumento – fazer pensar.

Para quem sabe ler um pingo é letra.

Hoje eu vou ficando por aqui.

Chupem essa manga.

1 comentario:

Árida dijo...

tenho pavor de formigas. elas fizeram ninhos em todos meus brinquedos quando eu era uma menininha. meu medo de formigas me impede de sentar na grama, subir em árvore e supera qualquer nojo de barata. hoje com suas palavras sobre o argumento você me convenceu sem precisar de que elas têm uma vida mais bela do que pude ver, devido ao meu envolvimento pessoal tão direto, comprometido, digamos assim.
fiquei levemente contente. li mais palavras. coloquei sua estilhaçaria no meu dizer infinito. como boas vindas. =*