Il,
Não sei se já te disse alguma vez, mas minha mãe é meio louca (como toda mulher que se preze) e, num de seus delírios, insiste em tentar reduzir a febre do meu corpo pedindo recorrentemente para eu te esquecer.
É estranho, reflito, pois foi ela mesmo quem me deu minhas duas únicas ferramentas para adentrar essa vida: a pena e a saia.
Se eu não te escrevo (,) meu amor (,) fico num estado de dar dó, muitíssimo febril.
Tento numa proliferação de exercícios manuais te encontrar.
Uns me encorajam e dizem para seguir (te) escrevendo. Outros julgam: "filho de peixe, peixinho é. É meio louca como a mãe, coitada" e, por isso, se afastam. Há ainda aqueles que demonstram um interesse artificial, inicial e posteriormente, quando finalmente consigo os angustiar com rastros, pistas de sua presença, quando já estão quase tão encantados por você como eu, me pedem, como ela, para te esquecer, geralmente alegando motivos de saúde.
Eu, que não sou mais tão inocente, sei bem da existência de doenças sem cura. Quadros clínicos, Il, com sintomas terríveis, mas que se eliminados culminam até em morte, onde o sabedor da saúde dos homens possui apenas tratamento a oferecer, nunca a cura.
Você, coração, me parece ser dessa categoria de doença, ainda não catalogada pelo CID ou DSM ou coisa que o valha e, devo dizer, a patente é minha.
Acredito piamente que o meu remédio é te buscar sem fim.
O tratamento acontece porque não te encontro nunca
e, no entanto, encontro tanto.
Hoje mesmo, ao te procurar, inventei uma brincadeira quente.Se você descobrir, ganha um docinho.
No hay comentarios:
Publicar un comentario