martes, septiembre 27, 2011

materrática

A falta de matemática irrita a existência errante desta que agora vos fala, meu amor, como também é fonte de irritabilidade ao pobre doente seu sintoma que ele insiste em repetir por pura falta de criatividade.

Espero sua chegada e ainda são 17:15 de um dia que só me libertará as 20:30. Você vem?

Todos podiam faltar ao meu encontro e você bem que poderia aparecer, hein? Travestido do seu preconceito...ia ser bom, fantasiado de pequeno burguês. Já faz tempo, coração, que meu labor não é bem assim do jeito que você pensa, mas venha assim mesmo, desse jeito que você imagina.

Então eu abro a porta. Peso a tinta nas olheiras como quem pesou esse pretume que acompanha a minha linhagem - linguagem eu ia dizer: é um cansaço longo, de anos, que tomba os meus óculos ao mesmo tempo que a surpresa levanta os meus olhos. Estou feliz em te ver chegar.
Você carrega a chuva que faz lá fora no cabelo, na roupa, nos seus papéis.
Observo atenta que a chuva manchou todos os seus papéis e me ofereço para te ajudar a reescrevê-los, já sabendo antecipadamente que o "macho-alpha" não gosta de se apresentar em fragilidade.
Invento que será um livro sobre a nossa cidade. Você concorda sem perceber o que anuncia a minha metáfora.

Preciso ser cautelosa agora

Um louco na rua avisa sobre a sua predileção por motos, desenhos, fotografias de motos. Sorrio maternal como quem entende que essas suas coisas são apenas "coisas de menino".
Imediatamente certifico-me dos nós de minha fita no tornozelo: "desatarei esse desejo?", me suponho em longos cabelos, faço trança, falo junto de alguém o seu nome, pego no verde: "coisas de menina".
E voilá o desencontro desde o princípio, coração, mas não desanime ainda, porque chove em nossa cidade e o trânsito de agora nos atesta do impossível que é sair da ilha-sala comercial que nos abriga.

Trilhas se desenhando no amarrotado de meu vestido floral que escolhi às 7h para trabalhar e, talvez, te ver.
Suspiro o seu desenho de flor deitada no negro tapete que agora risca a sua roda sem nem olhar o que me faz, sem nem olhar para trás, seguindo em linha reta

materrática.

1 comentario:

Elton Pinheiro dijo...

Poema


“Você carrega a chuva que faz lá fora no cabelo, na roupa, nos seus papéis.”

“Travestido do seu preconceito...”

“…fantasiado de pequeno burguês.”

“..se desenhando no amarrotado….”

“Observo atenta que a chuva manchou todos os seus papéis”

“Sorrio maternal como quem entende que essas suas coisas…”

“..é um cansaço longo, de anos, que tomba os meus óculos ao mesmo tempo que a surpresa levanta os meus olhos. Estou feliz em te ver chegar.”