martes, agosto 07, 2012

Intratável

Se eu desço um grado na escala consonantal, a história de Il parece se repetir.
Acho digno o ponto final sonorizando o olhar de adeus.
As dúvidas que me rondam são agora só dúvidas que me rondam e não terão, NUNCA MAIS terão (repito para que eu escute) o seu endereço.
A transgressão imaginariamente vivenciada cobra seu preço. Custa caro um recuo, uma covardia. "Não era ele, não era ele..." repito baixinho num consolo.

De volta à praia inventada de minha infância


- a mesma que meus pais me levavam para cicatrizar a pele rachada, onde meus gritos nem de longe exorcizavam a dor. Exausta, já quase sem força, eu sussurrava implorando "morfina, morfina..."-


Percebo no mar de agora um barulho diferente. É mais calmo. É mais meu.
Recolho delicadamente um pouco de água do mar com uma concha que faço com as mãos e derramo nas feridas das pernas, supondo que se as mesmas estiverem fortes posso caminhar de volta à cidade caótica que em seu barulho e nas suas luzes me ocupam de não pensar, NUNCA MAIS pensar em você.

As primeiras manchas nas mãos despontam. Manchas do tempo atravessando o meu corpo.
"Na velhice, terei as mãos de minha avó" - constato ao mesmo tempo em que percebo "certa marca não se cura nunca"

certa marca

secura

8 comentarios:

Árida dijo...

as manchas inventadas na praia da infância

o sol se concretiza nas marcas,
cicatrizes cor de sangue
cor de vida
cor de gente

guardo sardas para toda a vida
e um pedacinho do mar dentro dos olhos
para poder ler a suavidade da sua letra

de tudo que insiste e que NUNCA MAIS
poderemos ser

L. dijo...

...mas poderemos ser milhões de outras coisas

suas sardas lindas e seus olhos cor de mar, no entanto, permanecem firmes como ponto de ancoramento

quantas saudades, quão infinitas.

L. dijo...

(Lis, publiquei um texto no jornal daqui no último sábado. Uma pessoa comentou que eu escrevia muito leve, crê? Ri sozinha...)

L. dijo...

Ainda vou escrever um texto de título "Mão de chumbo"

Anónimo dijo...

Que legal que ficou seu texto no jornal!! (procurei e achei rapidinho!!) Ficou muito claro e muito inteligente! Parabéns!

Voltando a um assunto... Era ao Mercúrio de Shakespeare que vc se referia quando falamos há um tempo de Saturno, de Mercúrio etc? Eu estava falando de Deuses e planetas!! Vc me enganou! rsrs

beijos! parabéns!

obs: eu sempre venho!

L. dijo...

Eu ando apaixonada por dois Mercúrios, um que é o Deus e o outro que o Mercucio, personagem de Romeu e Julieta, mas que é uma referência clara ao Deus mitológico. Leia o livro. O papel dele na peça Romeu e Julieta é passível de muitas leituras.
Obrigada pelas visitas, Matt.

Árida dijo...

podemos ser milhoes de outras coisas e sua escrita pode sim ser leve para alguns

ostras trabalham muito para fazer pérolas
trabalho de chumbo, talvez

L. dijo...

você é esperta e linda desde que te conheci
:)