jueves, agosto 15, 2013

Apocalipse


“Bem-aventurado aquele que lê,
e os que ouvem as palavras desta profecia, 
e guardam as coisas que nela estão escritas; 
porque o tempo está próximo.” 
Apocalipse 1, 3.


Todas as cartas de amor serão rasgadas.
Todos os amantes, por decreto, apagarão de seus cadernos
qualquer vestígio, prova de crime.
O amor, será ele mesmo, um crime.
Ficarão proibidos o choro, o torpor e o ato melancólico de olhar para trás
- propriedade dos poetas.
Esses últimos serão degolados
por ousarem transmitir os nomes do amor
Os músicos, esses poetas disfarçados, terão transcritas suas melodias
com o único objetivo de terminarem como as cartas de amor.
Não haverá espaço para a ingenuidade.  Todos os sonhos serão corrompidos.
Todas as mulheres, sem exceção, não usarão mais saias ou vestidos.
Meus versos para você serão destruídos e não terão
nunca mais terão seus ouvidos
minhas leituras.
Todas as cartas de amor
as que imaginei
as que escrevi
e não sei onde guardei
Todos os riscos que corremos
para nos desencontrar
serão retirados de circulação
seus rabiscos
as marcas que sulquei
com toda força em sua memória
serão apagadas
os sonhos que tive
os sonhos que quis ter
a forma como as suas mãos receberam o meu corpo
naquela última tarde
Tudo será consumido em um fogueira
sem vaidade
a mesma fogueira injusta que desejou Galileu
por dizer aquela teoria absurda
por proferir impetuoso aquelas verdades agressivas
o meu amor por você
(essa verdade agressiva)
(que, no entanto, gira)
será destruído, incinerado
pelo cansaço que fez o tempo

no tanto que te esperei

2 comentarios:

Árida dijo...

meu deus. isso é genesis.

L. dijo...

Amém. Que assim seja.