martes, noviembre 12, 2013

Renúncia


Doze horas escutando no pau com intervalo de uma pro almoço. Delícia. A voz professoral volta como uma luva: "o analista deve ter cuidado com o gozo de escutar".
Se tem interdito, é porque deve ser bão - pensei gulosa.
Lá fui eu.
Escutar o barulho da cidade, seu movimento, seus ais. A cidade é tão bonita, mas tá fudiiiiiida.
Aposto que ela sai dessa. Aposto que pode sair dessa sem ficar choramingando migalhas (do governo?)
A cidade caminha.
De tênis keds e shortinho. Faz cara de bon vivant. Beira da praia, a cidade tira onda de gatinha, mas vai conhecer. De profundis.
Mergulha pra ver, bobo.
Só tome cuidado, precisa de fôlego. E estômago também.

É que mulher nenhuma poderá ser mulher trabalhando doze horas no pau, percebe?
As mascaradas, já o sabem.
Com seus brincos, sua maquiagem, a sandália de salto, mas na hora de abrir mão da piroca, não dá, né minha flor?
Já pensou em ensinar o amor a um homem que se casou com a melancolia?
Já pensou ensinar esse homem a ser pai de um filho seu, queridinha?
Vamos às dicas.
Passo número um: cortar a piroca fora
Passo número dois: idem
Passo número três: idem
Passo número quatro: cortar a piroca fora (não custa repetir para não esquecer)
E assim por diante.
Um passo atrás do outro. Devagar para não se atrapalhar.

Quanto à mim já provei que posso cuidar
Fiz um viveiro para as plantas aqui
Um hospital para as flores.
Recupera-se jardins, coloquei uma placa. Vai que cola.

Dona Helena fazia arroz, feijão e fritava, artisticamente, o ovo: bordinha crocante e gema mole. Depois se desculpava: "É o que tem para hoje, minha filha".
Daquela comida de hospital infecta eu estava livre.
Dona Helena, nietzschiana: amor fati.
Que na renúncia tem alegria, sim, Dona Helena, e a alegria é o que tem para hoje.
Bon appétit!

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