miércoles, enero 06, 2016

Voz escrita

Começo a me preocupar com seu estado de saúde. Suas cartas não chegam e o correio não está em greve. Até nisso pensei, mas Amarildo me recebe no retorno do recesso com um sorriso e outras tantas correspondências. Gosto do clima quente-abafado que me faz recordar aquela sua carta - tão bonita - com música. A voz cantada não é a voz escrita - eu ia dizer dita. O lapso me ensina. Preciso escutar o tropeço que me faz preferir a voz escrita. Acho que é porque a voz quando escrita está maquiada, disfarçada, preparada para. Quem, se não um analista, evidenciará um lapso desse tipo? Do contrário, a foice come solta. Corta ali, corta aqui. Cortei o meu cabelo bem curto dessa vez pra ver a castração operando no real, já que o simbólico não responde faz um tempo. Não te mando fotos de cabelo curto porque você não iria gostar. Ganho tempo pro meu cabelo crescer até você se recuperar ou talvez seu desaparecimento nem seja doença. Vai saber. O bom da distância é poder imaginar as coisas. Não ligo mais quando você faz distância. Até isso eu aproveito, feliz. Você se machucou um pouco e agora se recupera no conforto do seu lar. Tudo é bom e doce e calmo porque eu já posso escrever essa voz.

1 comentario:

Árida dijo...

quando se pode fazer bom uso da distância e do silêncio, escreva.