jueves, abril 14, 2016

Adorável

Minha supervisora diz coisas e nem sabe o que diz. Os casos por mim narrados, eu sei, são as minhas ficções. Cedo entendi que quem contar uma boa história ganhará o argumento, mas nunca tinha conseguido formular assim. Parece macumba, magia, tarô. É bizarro.

Ela devolve alguma coisa sobre o erotismo ser a única forma de barrar o excesso, fala sobre um olhar que enquadra. Fala isso logo pra mim assim como quem levanta pra pegar um copo de água e já volta. Meus olhos viram mar. É instantâneo. Me despeço correndo 
de mim. 

Não dou um minuto de trégua. O whatsapp é implacável. Aos prantos deixo um recado pra voz off e confesso o medo que tenho dela me abandonar um dia. Ela devolve letradona, jogadora de vôlei, dizendo que eu sou adorável e que nunca havia pensado nessa possibilidade para o meu caso, em específico. 

Não sei o que aconteceu muito bem, mas sei que houve um momento em que eu caí pra sempre e nunca mais consegui voltar àquele outro jeito, diga-se de passagem, mais funcional. 

Não ficou mais nada, nem uma casca. O mundo é quase que absorvido em tempo real, me atravessa, me extravasa. Eu preciso escrever, você vai me desculpar, só me restou isso: a palavra - que também pode significar a perturbação da paz ou quem sabe, com alguma sorte, um véu de letrinhas, uma malha, uma renda, uma proteção, naturalmente, adorável.

3 comentarios:

Anónimo dijo...

o redemoinho que vem junto com o erótico
não faz parecer barrar nenhum excesso
adivinha o que estou fazendo?

lis

L. dijo...

As 7 a.m por aqui? Nem imagino rs
Escreve. Me conta.

Árida dijo...

escrevo.