Existe um torpor por escrever, uma onda quente que acomete o corpo sem que se possa entender de onde vem, pra onde vai, muito menos o que pretende.
Este torpor - e digo este porque ainda esta por ser dito - surpreende na brisa dominical que surge logo depois do sol mergulhar e tem um hálito específico. Tem aparência de dor e de loucura e está mais para a paixão do que para o amor.
O autor mente quando diz ter entendido de uma vez por todas o seu significado através da boca de seu Pai. Um leitor mais imaginativo e menos literal percebe o falseio na escritura, quando não uma tentativa desesperada de estancar o que resta incógnito e, por isso mesmo, retorna de surpresa para não dar chance à censura da razão.
Este torpor impede a concentração para o cotidiano, para a vida prosaica, para o cafezinho banal da repartição pública no copo de plástico.
Este torpor infernal coloca o autor indócil para amenidades. Antes, bota ele comovido com densidades, com os astros, com os encantos de amor quebrado.
O autor segue na vida porque é dele seguir e só não arrasta correntes porque se exercita na tarefa diuturna de estancar o inapreensível, através da ilusão concedida pela imagem que forma com as palavras assim tecidas.
O autor mata e morre por esses contatos efêmeros com o torpor. É a sua condição e ao mesmo tempo a sua desgraça.
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