Fiz as pazes com Jorge. Resolvi tudo com jeito. Aprendo elegâncias, ganho amizades. A vida parece até justa comigo.
Ontem tivemos uma conversa musical. Jorge que só vive falando do samba, das cantigas africanas que compõem o samba, me explicou sobre as canções de diáspora, as canções de saudade, as canções de exílio. Indicou o livro do Stuart Hall e, ainda, disse que posso encontrar alguma coisa sobre a minha condição no tango, que é a canção de saudade dos italianos aqui exilados.
A gente canta cortando cana, canta plantando café, canta com dor na coluna e canta no açoite da vida pra suportar a perda da pátria amada, pra suportar a dureza.
Parecia tudo tão arrumadinho, tudo tão em paz, que tensionei o diálogo nesse ponto, mas numa boa, quando ele falava dos escravos africanos. Eu disse sobre os escravos italianos porque é assim que fomos tratados nesse país. Ele me debochou, me chamando de "européia" e continuou "cor de pele nesse país é patrimônio". Eu concordei com ele, letradona, porque é uma constatação triste, embora verdadeira. E terminei a conversa dizendo que eu achava tão bom que a gente pudesse se encontrar, ainda que na diáspora. Ele riu e se despediu.
Ambos sabemos que não estaremos vivos para ver o fim do apartheid latino. Nos enlaçamos novamente. Defini o corpus da minha pesquisa. Te envio esse e-mail. Aguardo seu retorno, Jorge, sem ou com diáspora.
Um beijo.
1 comentario:
espalhamento necessário
Publicar un comentario