jueves, agosto 11, 2016

Feitos para esquecer

Naquele tempo eu não conhecia sua praia de infância inventada. Você também não conhecia a minha. Mas era uma praxe eu me doar mais. Você me buscou depois da aula. Era fim de tarde. A gente foi pra ver o pôr-do-sol juntos. Na sua praia. Você também não sabia que o pôr-do-sol - das minhas praticas mais íntimas - era a atividade preferida. Eu gostava de ver como era morrer com honestidade e beleza. Você entrou e saiu da minha vida sem saber desse hábito, sem saber desse segredo. Eu jamais teria resgatado essa memória que não sei em qual baú guardei se não fosse o reencontro com seu irmão, que por sua vez, me trouxe a memória de um bolo de fotos que ele havia esquecido lá em casa no mesmo dia em que eu estava chorando porque eu havia emagrecido muito com a sua partida e o furo mais apertado do meu cinto não era suficiente. Ele me viu naquele estado. Seu irmão entendeu sem eu precisar dizer nada. Subiu. Me ensinou a furar o cinto esquentando a ponta da faca no fogão. Foi um gesto bonito dele. Naquele dia eu assisti o pôr-do-sol com seu irmão, que era muito melhor, mais generoso que você. Daquele tempo eu guardo gestos como esse e incompreensões. Era justo que eu fosse do seu irmão e não sua, mas o tempo já havia passado e a gente virou amigo. Não dava mais. Devolvi o bolo de fotos ao seu irmão, hoje. Ele me agradeceu demais dizendo que as fotos eram recordações de uma época muito bonita. Hoje eu chorei muito. Não teve pôr-do-sol. Seu irmão não pode subir dessa vez pois precisava pegar a filha na escolinha. Hoje é um dia daqueles, feitos para esquecer.

3 comentarios:

Anónimo dijo...

Tempos de muitas incompreensões... e vão e vem... acho que tomei um caldo agora nessa onda!

L. dijo...

Faz é tempo que não levo caldo. É ruim, mas é bom. Mexe com tudo que tem dentro. Aproveita! :))

Anónimo dijo...

:)