martes, agosto 16, 2011

ventos & espelhos

"Pude distinguir, muito mais tarde - por último - num espelho.
Por aí, perdoe-me o detalhe, eu já amava -
já aprendendo, isto seja, a conformidade e a alegria.
E...sim, vi, a mim mesmo, de novo, meu rosto, um rosto;
não este, que o senhor razoavelmente me atribui.
Mas o ainda-nem-rosto - quase delineado, apenas."

O espelho - Guimarães Rosa

Sua brincadeira de agora reverbera o meu passado adolescente. Esses ventos que me trazem de volta à mim cheiram a pudor da inocência e júbilo de reconhecer o mesmo traço, o de sempre.
Aquele que fingir espelho terá sempre o nome de amor, meu amor - sei porque li no Rosa.
E, no entanto, existe uma ventarola danada lá fora que nos separa e faz tremer a janela,
que faz tremer a vida tão confortavelmente ajustada ao já sabido.
O vento desse vão faz tremer tudo o que tem dentro.
Espelho, espelho meu, existe mulher mais medrosa do que eu?
Quem se atirar, sobreviverá?
Pergunto e respondo já sabendo que não é assim comigo, porque sei que sobrevivo
melhor do que me atiro - é rima e dica ao mesmo tempo.
Aquele que fingir de espelho terá sempre o nome de amor - de novo, para não esquecer.
Quem escrever sem pensar irá esconder a dor no mesmo passo de sua revelação.
Viver é muito perigoso, eu sei,
mas,
sim, eu vivo.



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