viernes, septiembre 02, 2016

Nuvem negra

"Não adianta me ver sorrir, espelho meu
meu riso é seu: eu estou ilhada.
Hoje não ligo a tv nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair. Se ligarem, não estou.
Na manhã que vem nem bom dia eu vou dar
Se chegar alguém a me pedir um favor
eu não sei"

Nesses dias turvos as histórias de Helena são uma das poucas coisas que ainda me fazem rir. 

Helena, como eu, tem uma disponibilidade para o outro que acontece sem que para isso ela tenha que fazer grandes esforços.

Me ligou ontem urgente para contar que em sua caminhada solitária foi abordada por um "coroa" que, por sua vez, pediu para acompanhá-la. Relatou a ela sua miséria e chamou para uma água de coco na beira-mar. Você caiu nessa Helena? Claro. Quando vi já estava lá rindo sem parar com um sujeito que não sei de onde veio e nem para onde ia. Se o João me visse, me matava. Mas não resisti. Depois da água de coco o tal fulano foi mais explícito e Helena precisou evaporar mágica.

Acho que Helena tem muita saudade do que fomos uma para outra noutras lidas e não fosse a distância estadual me chamaria para um café.

Depois de falar com Helena percebi que minha atividade diuturna consiste em viabilizar encontros, chamar o outro num canto e escutar ele narrar, com toda a atenção desse mundo, seus infortúnios.

Depois de falar com Helena quis praticar a melancólica atividade que é a escrita. Escrevo para eternizar a risada de Helena, seus trejeitos na contação de história, sua empolgação com as coisas triviais dessa vida, sua preocupação comigo. 

Escrevo para reter Helena como se isso fosse possível por meio da linguagem. 

Escrever é se afastar da experiência. É fundar, paradoxalmente, outra experiência. Escrever é um jeito de guardar a forma que criamos, de tempos em tempos, para nos perdermos uns dos outros.

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