lunes, mayo 21, 2007

o re thor no.

Zão

Algum tempo já se passou e me ocorre de te escrever: eu não me presto mais a dar corpo à menina e ela insiste em retornar. Marina e Carla andaram me perguntando sobre Sofia. Ninguém mandou eu dar meu colo ao desamparo. Eu expulsei o desamparo de mim e eis que ele retorna. O Outro quer ver meu desamparo – pensei – não fossem as milhões de análises possíveis e imagináveis e você me dizendo da minha paranóia. Ta bom, ta certo, ok. Perdoa de mim essa doença: meu cansaço. Pedi água de beber na sua terra e só me serviram cachaças. Estou separada de mim, Zão e é bonito e me completa, mas um pardal parou na janela de minha casa na roça. Aqui, eu consigo ver o pardal parado na janela apenas. É comum e não me cansa. Os dias de lá seguem na monotonia de sempre. As listas aumentam, minha angústia é enorme: preciso responder a carta de Marina a altura da moça, preciso cortar o cabelo, ler aquele livro novo da Hilda que ganhei e ficou parado na estante, preciso avisar que estou de volta. Não é ao acaso que te escolho, Zão. Estou com medo de que Sofia retorne em mim. Estou tão adapatada...é do transtorno dela que tenho medo. É medo da dança de Sofia. E me ocorre de te dizer sobre as coisas práticas do dia-a-dia, mas a isso você não serve bem, Zão. Preciso de você, agora sei, justamente para o impossível, a negativa de meu desejo, meu medo, meu medo, meu medo.
Zão, eu peço que você me escute em urgência porque sinto: Sofia já está aqui.

Luciana Dufour.

1 comentario:

Anónimo dijo...

"Estou tão adapatada...é do transtorno dela que tenho medo. É medo da dança de Sofia."

Juro que ela não volta igualzinha. Já recebi de volta algumas partes de mim, e elas estavam mudadas. Continuavam me assustando mas estavam, de fato, mudadas...

:-)