sábado, octubre 20, 2007

o mar revolto

Minha avó avisou que não daria para entrar no mar aquele dia porque ele, o mar, estava revolto. Eu estava de vestido rosa-claro-vaporoso. Era julho e em julho faz muito frio, venta muito lá de onde eu venho e a praia fica vazia. Eu sorri para vovó porque era bom estar ali com ela. Parecia que o mundo era só eu, ela e a minha praia de infância. Eu e essa minha avó tínhamos um ana em comum no nome e a gente se ligava com toda a força. Mas o mar estava revoltado, eu pensei. Minha avó gostava de entrar no mar porque ela dizia que ele massageava o corpo dela - a coluna - e ela tinha muitas dores na coluna, dá um sossego, ela dizia, mas daquele jeito entrar no mar só ia trazer maus-tratos ao corpo de minha avó. Foi aí então que eu me lancei, sem medo, sem choro ou lágrima. O mar estava revoltado e eu era nova. Eu sim, podia entrar lá. No começo ele tirou minha dignidade, caí várias vezes, bebi água demais, fiquei com sede num mar de águas salgadas, mas o tempo ia passando e o mar ia notando que tinha força dentro daquele vestido vaporoso, que a minha revolta era muito grande e que eu era boa de briga e que, de repente, os dois já estavam muito cansados, que como ninguém ia ganhar mesmo era melhor partir para a brincadeira. Tipo brincar de brigar. Pode ser perigoso, lembrei de uma amiga me dizendo, de tanto brigar ele foi embora. Então nesse instante olhei para vovó e da areia da praia ela ria muito e gritava: -Vai, minha filha, você é boa nisso. Como se só eu pudesse dominar aquele mar e, eu sabia, não era verdade porque qualquer um que desejar um mar revoltado e seguir adiante com fé consegue a brincadeira. Eu divertia a minha avó e ela parecia orgulhosa de mim. O mar de minha avó era revolto, mas o meu era revoltado e foi só assim que eu consegui a brincadeira. Acho que ela não percebeu isso, mas o que importa é que hoje ele virou mais do que meu amigo, quando estou com ele parece que somos partes de uma coisa só. Eu e aquele mar revoltado.

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