martes, junio 17, 2008

ruminando capim velho

"Preocupo-me em escrever agora porque falta-me o que te sobra"
assim pude reconhecer uma vez um inimigo de raça
uma égua parruda
tudo o que eu mais queria é que não faltasse a contra-argumentação porque aí sim eu observaria que tinha me saído bem
tomei um silêncio na cara, fiquei de dar dó
eu havia calado meu inimigo de vez,
para sempre - aí também já era demais porque a gente nunca sabe o que se passa do lado de lá
algumas vezes o outro lado diz muito no silêncio:
bilhetinhos, papéis de carta com borboletinha e caneta de cheiro -
eu me aprumava toda e dizia: "puro imaginário, coisa de adolescente"
eu me invejava nesse inimigo
eu reconhecia que ele era bom, mas eu, eu era muito melhor
o duro era precisar dele para me ver assim
mas se você pensar bem escrever é sempre imaginário. Ninguém, absolutamente ninguém, fala para um sujeito real de carne e osso
eu quis ficar amiga do inimigo porque na sua inteligência ele se fragilizou para me seduzir,
para fingir que se parecia comigo
fui cooptada com gosto
mas o inimigo também não resistiu aos meus encantos porque quis me envolver
para triunfar precisou de mim
ou seria para furunfar?
pode até ser
o inimigo se misturou e eu deixei, sabendo que estava deixando
isso é que é se entregar
existe escolha na invasão
eu continuo às voltas com meu inimigo. Inimigo, mas meu
e "no entanto durante a dança depois do fim do medo e da esperança"
acho que caí no que era o mais natural no sentido de esperado
[tudo o que é esperado é o mais natural?]
inevitavelmente o inimigo era eu

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