Eu não sou digna de que entreis em minha morada,
mas dizeis uma só palavra e serei salva
Zão,
Quando comecei uma nova busca fiquei tão entusiasmada que me esqueci de você. Mas era uma busca furada e então lembrei de um tempo que não volta, felizmente. Antes era ruim perder uma meta. Hoje percebo que se não se sustenta o que eu havia me imposto antes, com o maior rigor, como meta, é porque não devia ser mesmo muito importante. Essa mania de me impor as tais metas têm sido fonte de ótimas risadas entre os meus. O tempo passando me faz perceber que eu amo a solidão. Acordo e vou a feira para só em seguida visitar meu irmão que se encontra com a saúde debilitada. É bom encontrar o meu irmão e ver como ele é raçudo e não se deixa sucumbir. Comigo não é tão fácil assim. Se eu escrevo, você pode até comprovar o que agora te digo: vivo enferma de amores por você. Já escutei uma vez uma senhora que me dizia sobre os perigos de se estar apaixonada, imagine você... logo eu que não estou apaixonada...logo eu que sou uma apaixonada eterna do tipo que acha lindo de morrer a paixão de Cristo! Eu gosto das procissões que são feitas para Ele e, em verdade, digo a você que sempre me inspirei nelas para professar o meu amor e a minha fé de que um dia pode até ser diferente.
Eu já ia me desculpar de minha ausência quando percebo uma mancha de sangue no meu sapato trazida lá do hospital onde trabalho. Tudo é poesia, isso eu aprendi. Mas nem sempre estamos preparados para sua leitura. O tempo me agride fazendo sulcos profundos em meus sonhos e, apesar de morrer de saudade, tenho que trabalhar.
Imagino, quase que tendo certeza, que o seu tempo tem sido muito bem ocupado e devidamente recheado daqueles que de você se aproximam pelo carisma que lhe é próprio.
[Soube pela televisão que você vai bem]
Acho muito generoso de sua parte não cobrar o meu rethorno, mesmo porque sabemos, eu e você, que isso não é passível de cobrança.
Não pense você que se não escrevo é porque não estou professando o meu amor. Essa última frase pode parecer denegatória, mas elimine seus nãos e você vai ter esse problema solucionado: o silêncio é também uma forma de te amar e de te agradar e de me fazer presente.
Zão, eu ainda amo você.
Sinceramente,
L.
No hay comentarios:
Publicar un comentario