sábado, junio 12, 2010

"distâncias mínimas"


Hoje Stéfany me perguntou de onde eu era e sem me dar tempo para responder, como se o que de fato importasse para ela fosse só me situar acerca da imagem que tinha de mim, me informou que não só parecia que eu não era daqui como parecia que eu era uma moça de São Paulo.

“É curioso, Stéfany, você dizer que eu me pareço uma moça de São Paulo” – disse a ela. E completei dizendo que geralmente as pessoas acham apenas que eu não sou daqui e não me dizem de onde acham que eu venho. E encerramos nossa conversa assim.

Respeitei o fato de Stéfany querer apenas situar para mim a imagem que represento.

Acho que não me prolonguei nas associações com Stéfany porque parecia que para mim naquele momento não importava o que São Paulo representava para ela.

A mim, a cidade mete medo pelo alto grau de sofisticação que lhe atribuo, mas também sou uma admiradora da sofisticação. Acho bonito as pessoas serem sofisticadas. Mas só as verdadeiramente sofisticadas, não os que pagam de. Nunca os que pagam de, referido a qualquer coisa.

Hoje eu havia mexido com Stéfany dizendo que ela estava diferente, fingindo que não havia percebido que ela tinha alisado o cabelo, como se eu desejasse que Stéfany me informasse isso, mesmo eu já sabendo. Ela enrubesceu. Stéfany é muito simples, às vezes, parece uma moça da roça.

Não disse a ela sobre a imagem que faço dela. Eu até acho que no fundo no fundo ela é a mais sofisticada e eu sou a mais “da roça” como se costuma dizer. Também me arrependi, depois, de não ter perguntado sobre o que São Paulo representava para ela, porque a opinião de Stéfany, apesar do pouco tempo que nos conhecemos, é muito importante para mim.

Decidi que na próxima vez que nos encontrarmos irei explorar melhor com ela o que São Paulo lhe evoca, para tentar entender um pouco o que Stéfany estava tentando me informar daquela vez. Mas também decido que é melhor não falar mais disso, se não posso parecer meio neurótica, ela pode até pensar: “que garota louca, ficou pensando todo esse tempo nisso”. E eu não quero parecer louca a Stéfany porque quero que ela se interesse por mim e se torne minha amiga.

Mas agora acabo de lembrar que ela também já me informou disso uma vez: “você parece louca, às vezes”. Na ocasião eu havia feito uma exposição sobre o tropicalismo e caetano veloso e Stéfany expressou, como sempre faz, sua opinião. Acho que ela falou isso porque sou impulsiva. E esse comentário de Stéfany é antigo e, ainda assim, hoje ela dividiu a leitura de um texto comigo.

Concluo agora então que mesmo eu parecendo louca e de São Paulo, Stéfany se interessa por mim.

Na aula o professor analisava um poema do Leminski, chamado “Distâncias mínimas”. Acho que Stéfany queria dizer que apesar da gente ser distante e diferente, ela até que me acha legal.

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