"sambando na lama de sapato branco, glorioso
um grande artista tem que dar o tom
quase rodando, caindo de boca
a voz é rouca, mas o mote é bom"
como não podia prolongar muito a conversa, criou um jeito de se desculpar
que era comunicar o que interessava sem fazer muito alarde
o tempo havia passado mais depressa do que das outras vezes
e, no entanto, o mesmo ponto de encantamento permanecia
sentia-se firme para continuar
era preciso correr: sabia que podia sucumbir a qualquer momento e
também sabia que não podia sucumbir, não agora
precisava ser corajosa, brava
precisava aprender a cantar
caía muita chuva
caía muito na chuva
precisava aprender não só a cantar, mas a sambar diante do toró [e de sapato branco]
e não sabia sambar
e disse que adorava dançar
precisava mentir com valentia
precisava acreditar, sobretudo, na mentira que inventava para se desculpar da realidade
precisava respirar um pouco,
mas era só um pouco que passou do ponto
descobriu que não sabia se despedir
no instante em que se viu olhando para trás
resolveu sambar, sambar, sambar
pra ver se passava aquilo de pegar ar
até a sandália acabar
ao ponto de ser levada dali para cair morta de cansaço
na cama que a aguardava
sonhou passados em leitos futuros
chorou o colo materno até ficar rouca
e quase morria de frio no momento da chegada do socorro
reconhecia ali uma espécie de limite
desculpou-se de não poder mais se prestar ao abandono
concluía que não queria saber como era morrer de amor
insistia teimosamente na vida
e assim passou a viver
1 comentario:
foi respirar, se enganou e suspirou! sensacional! rrsrs
e também "e não sabia sambar
e disse que adorava dançar
precisava mentir com valentia"
épico! "mentir com valentia" mudou a minha vida. Serei outra pessoa a partir de agora! rsrsrs
adorei o blog!
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