Não devo dizer, nem sob tortura, como descobri a real história de Bento Ferreira, pois isso colocaria em risco a graça da história e se o texto perde para sempre a sua graça, a vida também acaba. O que posso dizer é que fontes seguras informaram acerca de tal história que repasso a vocês.
A história de Bento Ferreira passa pela de sua mãe inevitavelmente e os rumores apontam uma certa antipatia nutrida pela mãe de Bento acerca de uma tendência no comportamento feminino que fora iniciada naquela época por mulheres de São Paulo e que perdura em nossos dias.
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As mulheres da Ilha apostaram que "levantar o mastro" era a solução. A coisa se desenvolveu de tal forma que uma patologia fora disseminada nessa ilha (até hoje poucas mulheres se safaram da doença). Todas da Ilha que aderiram ao movimento das mulheres de São Paulo sofriam de tal mal, cujo principal sintoma era a solidão.
A mãe de Bento observava calma e concluía que mulher alguma deveria competir com o esplendor de seus homens, que a mulher era diferente do homem e que isso não era ao acaso e que ela também - a Mulher - tinha o seu esplendor.
Os homens da Ilha eram tidos como verdadeiros bananas e sua única função delimitava-se à prática da procriação.
A mãe de Bento entendia que qualquer teoria criada por um grupo de mulheres era algo muito poderoso e muito vivo e que tinha uma força de disseminação e criação de verdades preocupantes: se as mulheres começassem a dizer que os homens da Ilha eram bananas, só isto restaria a eles. Era o que suscedia.
Na vanguarda da vanguarda, a mãe de Bento Ferreira desenvolvia uma teoria de confronto à das mulheres da Ilha. Bento Ferreira, já era crescidinho e ouvia tudo muito atento. Entendia que às particularidades da Ilha não cabiam comparações tão precárias: São Paulo era São Paulo, a Ilha era a Ilha e ponto final.Como uma peste, a referência equivocada se alastrava. As mulheres da Ilha adeptas ao women´s liberation, movimento que também fora convencionado chamar "bucetismo",eram numerosas.
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A mãe de Bento Ferreira acordava de um sonho que julgava estranho. A barriga cada vez maior, permitia sonos cada vez mais curtos. Desperta, não conseguia entender o sonho que acabara de lhe ocorrer: sonhar com um filho em idade avançada era uma super expectativa que não deveria desejar para sua criança.
Nota do autor: Por me identificar muito com a mãe desse Bento Ferreira, corro o risco de desenvolver uma história apaixonada, mas nem por isso menos verdadeira. Os erros de português também são frequentes quando isso ocorre. Em todo caso, cabe registrar que Bento fora fortemente influenciado pelas idéias revolucionárias ocorridas nesse sonho de sua mãe. Estudiosos de todo mundo pesquisam acerca de como o sonho de outro pode influenciar a vida de um, sem ter sido aparentemente verbalizado. A síntese da passagem do sonho para a vida, no caso, era: Nem tudo que vem de São Paulo é bom para a Ilha.
1 comentario:
esse seu texto é fabuloso, lindo demais. adoro sua escrita.
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