Para Pedro C.,
com carinho.
Vi na sua cara jogada para fora do carro um olhar cheguevariano meio burguês blasé desviante de todo o exercício de concentração que apela ao motorista da via larga de asfalto. Vi displicência e desvio de olhar e, nessa perdição toda, vi quando você me viu.
Não tinha a dimensão infinita das avenidas de New Jersey parecendo o Amazonas, quando não se pode enxergar a outra margem. Então vi Guimarães Rosa também e me iludi na idéia crescente de que quem escreve adquire uma linha bem marcada, forma dura e fechada que só a morte concede. Entendi que viver está muito mais para não se ter margens e inventar tamanhos e formas.
As meninas loucas já o sabem.
Embriagada de caipirinhas, mimetizei as meninas loucas, pensando em escrever o real da vida como se fosse sonho, como se fosse desejo e te oferecer o maior tesouro que havia encontrado.
Se ele não quiser, haverá quem queira – refleti, tão conscientemente triste da perda que se colocava.
Pode-se viver na fixidez de uma imagem e também é possível deslocar algumas dessas idéias que parecem rijas, que parecem pedras, que se parecem rochas, que se chamam Pedro.
Quero ser água na sua pedra e te circular incessante na idéia-rocha que te faz. Quero crescer no teu peito, displicente, pouco ameaçadora, até você ver, caminho de luz, que já faço parte de tudo o que existe.
Não aparecerei com espadas, facas ou revólver.
Não aparecerei com cintas-liga, calcinhas de renda ou camisolas.
Serei discretamente intensa, se isso te for possível;
Serei calmamente caótica, se olhar atento;
Monocórdica e diarréica,
serei,
insistentemente, mulher.
insistentemente, mulher.
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