martes, diciembre 28, 2010

um de tantos dias inventados

"Final da solidão em Saigon: últimas latas de sardinha, esqueci de comprar pão, vinho tem de sobra, mosquitos, desde domingo as cigarras não cantam, assim que o tempo refresca elas atravessam as colinas do Luberon e vão para a região da costa, de modo que eu preciso desse rangido que se torna pele quando tiro a roupa e me exponho ao sol de frente para os vales, com um disco de Josh White que me marca o tempo de bruços (19´4´´) e de frente (17´7´´) para não ficar torrado."
Cortázar



Se eu fosse o Cortázar hoje eu contaria sobre um de tantos dias em Saigon. Mas as coisas não são assim por aqui. O Cortázar poetiza o seu dia e todo mundo bate palma, por mais insignificante que possa ser. Falta-me a paciência necessária e rivalizo com o escritor consagrado sim. Tenho poesia o dia inteiro também e em cada gesto, mas o cansaço transforma tudo em uma terrível febre permeada de longas esperas. Está chovendo e não se deve enfrentar a chuva num estado agora sub-febril, após o anti-térmico. Durmo muito quando tenho febre. Atribuo tal fato à associação que faço entre ser aquecida e poder descansar. Os médicos que se danem com as suas teorias e a sua ciência. Gostaria de contar do estado febril, acho que é só isso. É dezembro ainda, o natal já passou, o ano novo está por vir. Não tenho medo de anos novos, mas por via das dúvidas pulo sempre as tais ondinhas. Com febre e doente não sei como vai ser...

Aprendi a fazer uma maquiagem inédita na internet. Amigos me desconhecem quando, agora, saco da bolsa minha nécessaire de maquiagem. Eu finjo que não ligo por eles não me esperarem em tal lugar. Insisto na novidade. Uma hora eles se acostumam. Sinto-me um monstro caminhando pelo supermercado com a cara rebocada do que descobri, mas o espelho me indica um fio finíssimo que aprendi a fazer nos olhos com delineador líquido. Concluo, um pouco chateada, que sempre serei uma mulher discreta. Uma amiga, certa vez, ficou de me ensinar a fazer isso. Pedi como a filha que é ensinada pela mãe a ser mulher. Perdi. Aprendi sozinha. Aprendo todo dia. Estou mole da chuva que tomei na volta do supermercado com maquiagens, cremes e xampus novos. Todos produtos muito bons para que eu possa dormir. O mau-humor é incrível. A febre está voltando e eu perco novamente a paciência com o esfria, esquenta. Mas não sem antes colocar foto tirada por mim, que nem o Cortázar.

Sobre o estado febril: faz calor no Brasil. É terrível, mas ainda assim insuficiente para aquecer no grau que preciso.

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