Il,
Tenho falta de você quase todas as horas.
Numa tentativa precária de te encontrar, já é momento de saber e apresentar o obsceno que toda confissão porta, encarnei você, Il, em um homem comum. O pobre acreditado usou achar que era mesmo para ele todo o meu amor.
Os imbecis, frequentemente, são a maioria.
Encontro dificuldade na superficialidade e banalidade das relações humanas, relações nas quais me incluo inevitavelmente.
Existiria alguma vantagem na lucidez acerca de minhas limitações, inibições, precariedades?
Seria eu capaz de perdoar os meus excessos de humanidade?
Tendendo ao maternal, sei que me afasto de você, Il, que me quer mulher e me quer bonita.
As mães podem ser criaturas absolutamente ameaçadoras e eu te quero por perto.
Guardo segredos óbvios, que só não conto a ninguém pelo prazer de me sentir portadora de algum tesouro e, talvez, protegida. Talvez...
Não te contando meus nadas, erijo o desejado enigma.
Se você não responder, Il, estamos envolvidos até a alma nesse jogo.
Alma é palavra que não gosto e por isso encarnar você, assim, na imbecilidade humana.
É que eu precisava de um corpo, Il. Todo homem precisa, em alguma medida.
Mas neste ato onde escrevo minha verdade mais verdadeira e descolo Il de toda forma humana cometo outra novidade: alcanço o blefe necessário para sê-la, digo, a mulher de Il.
Você, Il, faz aquela cara típica do mentiroso cafajeste (que eu adoro, o que se pode fazer, não é mesmo?), cara de quem escuta toda minha verborragia, mas que no fundo repete o velho ato de despir com os olhos o corpo já tão conhecido.
Engraçado que dessa vez eu não me machuco, pois entendo melhor (e talvez, por isso mesmo, cada vez menos) o que faço ali diante do seu olhar...
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