Agora me desfaço do cansaço letra a letra. Vou deixando cansaço no pedaço de papel e te acompanho por aí. Você, que tem a letra bonita, me leva a passear. Acho tão incrível o quanto posso viver um passeio mágico bem perto da minha base, quase sem sair do lugar. Ensaio outras tantas letras a partir da minha. Ensaio umas fotos. Acho que tento guardar o inguardável no pedaço de um outro papel. Vês? Posso colar essa escadaria aqui na porta da casa do pai de Estefânia. Vai ser dolorido fazer a menina tombar.
Fui à lua e voltei enquanto você me dizia essas suas coisas práticas que você tanto gosta. Sua letra é tão bonita. Talvez por saber disso muito bem e ao contrário de mim, nunca me pedes confirmação acerca da imagem que montas. Minha letra, por sua vez, faz um desvio engraçado, mas não perde a forma, dá pra ver que é letra, percebes? Acho que desvio quando vou à lua. Lugar favorito. Ainda faço aquela barriguinha no éle que aprendi quando me ensinaram a escrever. É a memória de minha escrita. Éle. Pronto. Éle. Ponto. Heliponto e, voilá, hora de aterrissar. Encontro você com um sorriso sagaz de quem me pegou no flagra. Não me intimido: “oui, monsieur, estava na lua de novo". Justifico dizendo que isso faz parte de minha escuta flutuante, flutuando. Lua again: é quando ela mais fascina que insisto em escrever antes de ser tragada pela sua beleza redondinha. Meu tempo é assim: cheio de nove horas. Bate um tambor de capoeira lá longe, escutas? Não. É na minha barriga que bate e as pernas vão compassando generosas e involuntárias. Tão bom se deixar levar assim. É um pouco triste também quando me dou conta de que é preciso voltar.
Mas, se está certo o que disse o poeta sobre de tudo ficar um pouco, interrogo com os meus restos:
“texto, texto meu, todas as mulheres do mundo são potencialmente loucas como eu?”
1 comentario:
dias depois do levante a favor da fundamental infância me veio à mente uma noção sobre sofia, antônio, estefânia (fortíssima na verdade), entre outros,.. agora, vindo escrever a coisa, e diante de uma letra tão delicada e certeira, subitamente esqueci. ...por uma coinscidência errática faz uns dias li em voz alta o poema de drummond, aquele chamado [resíduo], em que diz que "de tudo fica um pouco",.. conclusão que num lunático efeito estabelece uma ideia de pertencimento ao mundo literário, tão capaz de questionar, elaborar, aprovar/desaprovar, enfim provar a realidade do mundo.
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