jueves, noviembre 29, 2012

delírios de uma tarde febril


Em novembro meu único consolo é a proximidade com o fim, é o prazer que procede à constatação de que tudo termina em breve.
A febre recheia os buracos da espera em mim e é feito purgação.
Os vazios que compõem esse corpo não sabem aguardar o tempo passar e, por isso mesmo, adoecem.
Eu deliro no calor insuportável da enfermidade e vejo você.
Faço sonhos que por mais que eu tente dizer, jamais serão ditos: você sabe que alguma coisa sempre escapa a essas fotografias de nós dois.

Dessa vez, o homem universal vem com a barba grisalha. Certifico-me de que estou segura. Esse tipo exige self-confidence. Ele me propõe, elegantemente, um jogo secreto que escolho não recusar.
Nessa altura, a câmera abre um longo terreno baldio que se enfeita e se projeta para receber uns tais artistas circenses, peruanos talvez. A dona da casa é a mãe de Raquel, a rainha do deboche. Mas não tem graça tentar te abraçar. Você é defesa seca e me empurra segurando com suas mãos as minhas. Quase não entendo, mas percebo já estar no jogo secreto.
Então você me abraça, diz para eu disfarçar, fingir que estamos brigando e ficar calma, me levando para o beco onde mamãe morou.
Eu explico sobre timidez para você e dou voltas e floreio para falar em melancolia, essa palavra molhada. Você diz para eu não gritar nunca, que não combina comigo, me dá lugar e ri dizendo que não acredita em quase nada do que te digo, mas que me perdoa.
Eu digo, quase brincando com as suas mãos, que o tempo passa e que é bom que o tempo passe [pela primeira vez]
Você diz, finalmente, que era sobre isso o código secreto, repete a metáfora do trampolim, sobre sermos trampolim um para o outro e preu parar com aquela bobeira de pacto, porque quando a gente se beija a gente diz sim um para o outro...