martes, enero 01, 2013

segredo


As unhas, ajeitadas no salão de belezas, se borram dessa tinta de caneta que uso para te dizer certas bobagens azuis estampadas em corações rosa-choque: incidências de seu discurso em mim.

Para uma certa delicada flor de lis aviso que minha gargalhada já não é mais a mesma. Tornei-me asmática no caminho. Rio gaspeando a falta. É terrível. Troquei o cigarro pela bombinha. Desde então, fumo corticóide, mas aqui ninguém me recrimina: o centro da cidade é um barato e os velhinhos são bons de papo...

Digo que ando meio farta de tanto imaginário que o imaginário em excesso, coração, inibe, melancoliza. (Quando vamos nos ver pra valer?)

“Vou nessa” – pensei e atravessei a rua, aproveitando a sua fragilidade nesses tempos festivos, para bater um papo, mas ainda assim você me pareceu, num primeiro momento, aquele carrão não sei o que lá defender. Com alguma sorte, fez um tempo bonito e você baixou o vidro para ver quem te interpelava, pois o sol ofuscava e te impedia de me ver. Pude ver um pouco também o que havia dentro do seu carro, mas só um pouco.

Como se faz para estancar o tempo? (perguntei, recordando nossa conversa que não me abandonou ainda, enquanto acentuava o côncavo da maquiagem com a finalidade de produzir um olhar dramático para a festa). Se você me visse agora, provavelmente, riria da minha cara de loading tão característica que já me rendeu tantos apelidos carinhosos e maldosos.

Ressurjo das cinzas desse pensatório e profetizo de uma tacada só e em voz alta: “Ficará rico o empresário do ramo cosmético que inventar o sabonete demaquilante”. Mas você dá de ombros sem alcançar a potência metafórica inserida nessa aparente futilidade feminina.

Baby, seio não é peito. Olho tampouco olhar. Não pense que meu coração é de papel...

De repente, na rua Piauí, um holograma de você, sofisticado como você, sugere que os índios canelinha-verde, tão cordiais, pobrezinhos, não nos alcançarão quando nos teletransportarmos dessa para um lugar mais possível onde toda mascarada de “obrigada”, “parabéns”, “você poderia me conceder essa dança?” cairá pelo chão de um quarto enigmático que ainda não sei ou não posso ou não me autorizo dizer.

3 comentarios:

Árida dijo...

preciso ler milhões de vezes
para decifrar o segredo
desses papeizinhos rosa-choque

Anónimo dijo...

Ficou sexy com essa agressividade e essa determinação.
Matt

L. dijo...

Árida, a leitura de outros me ajuda a constituir meus segredos, esses que insisto em escrever. Quem sabe eu também não os descubra nos que me lêem. Seja Bem-Vinda.

Matt, sumido, ainda bem que existe o texto para a gente ser várias possibilidades...Escreva mais. Bj.