Logo depois de me conformar com a sua falta, decidi que iria
pegar a bicicleta abandonada na garagem e pedalar para longe da dor dos últimos
dias.
Vi aquelas suas fotos com os índios de uma aldeia tão longínqua e achei
sem razão essa distância que nos impomos, mas decidi partir do ponto que nos
deixamos para empreender eu também uma viagem.
Confesso que quase consegui
esquecer que você existiu até o menino colorido me dar várias fitas de fazer
desejo. A Bahia dele era mais próxima que sua aldeia de índios e aquelas fitas
me davam possibilidades de sonhar.
No entanto, era sempre um comparativo o que me ocorria. Você
retornava como um fantasma odioso que eu tentava empurrar para fora do carro,
da casa e do meu coração.
Entendi muito nova que algumas guerras não têm fim.
Decidi parar de enfrentar tudo na solidão.
Mandaram eu te esquecer, mandaram eu te trazer de volta.
Escolhi te ex-crever para te perder bem devagar.
Eu iria me acostumar com o fim do mundo lentamente.
Escrevi uma carta de amor num livro de Clarice que nunca te
enviei, pois no segundo telefonema da sua mãe ela me confirmava que os seus
olhos haviam desviado para matas, índios (e índias?)
(É quando eu mais sou mulher que mais odeio a sua mãe)
Os dias seguintes seriam doces na bicicleta rosa-choque de
cestinha.
Eu voltaria a sentir prazer no prosaico e todas as
brincadeiras que eu soube uma vez fazer voltariam feito mágica, me
reconheceriam novamente.
Os jornais publicariam a história da alegria associada ao
meu sobrenome materno e eu recordaria levezas.
Até, numa tarde de março, em visita a casa de meus pais, o
velho número de telefone tocar e uma voz musical, parecida à de mamãe anunciar:
- Telefone para você, é o...
2 comentarios:
ah tribo danada das distâncias
saudade arruína particularmente
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