Nova aprendi química com meu pai. Tinha muita química na
química dele, então, inevitavelmente, me apaixonei. Mais ou menos nessa época,
conheci Lorenzo, o guitarrista – apelido conferido por nosso professor de
química da escola que assim o chamava pelo simples fato dele usar brinco e ser
cabeludo.
Lorenzo tinha um caderno de desenho que sempre mostrava para mim. Eu
gostava de ver os riscos de Lorenzo, porque naquele ato era como se ele me
contasse seus segredos mais íntimos. Era belíssimo seu caderno de desenhos.
Além disso, Lorenzo tinha uma banda de hardcore, na qual - por pura
coincidência ao apelido que o professor de química lhe deu - tocava guitarra. Lorenzo
era multitudo na arte.
Eu, por minha vez, sabia a tabela periódica de cor e
salteado e já era capaz, antes de todos da minha turma, de desvendar os
mistérios mais fundos das cadeias de carbono quando me apaixonei por Lorenzo.
Lorenzo era bem tímido.
Uma vez fui buscar minhas polainas para as aulas de jazz em
sua casa: a mãe dele tricotava como ninguém. Ela aproveitou a ocasião e me
disse que Lorenzo estava tendo dificuldades em química, se eu não podia
ajudá-lo, pois ouviu dizer que eu era muito competente em tal disciplina.
Eu disse: “Olha, Lorenzo, dou aulas de química para você e
em troca você toca umas músicas para mim nessa sua guitarra”. Ele sorriu,
consentindo. Gostou da troca.
A partir de então, sustentávamos horas e horas e horas a
sós, às vezes no quarto dele, às vezes no meu.
O mundo todo passava entre nós.
Eu treinava beijar Lorenzo no box do chuveiro, durante o
banho.
Acho que ele treinava me beijar também.
Um dia resolvi ir embora do brejo: “Olha, Lorenzo,
eu não caibo mais aqui nesse fim de mundo. Eu vou embora, sabe. Você devia ir
também”.
Lorenzo ficou ainda um tempo e eu parti com sua música
violenta para enfrentar a selva urbana.
Depois disso, só encontrei Lorenzo mais duas vezes:
1. Quando voltei na festa da cidade e ele me deu um
beijo na boca (foi muito estranho)
2. Na ocasião de um show, quando ele já era artista
respeitado. Fui à paisana, porque aprendi discrição com Lorenzo. Ele já estava
casado, tinha filhos e eu não podia atrapalhar. Não tinha esse direito. Observei
um grupo de intelectuais que comentavam sobre a música daquele rapaz, que era uma
coisa, que tinha uma química diferente...
2 comentarios:
Na química a gente aprende que a melhor parte nem sempre é o beijo na boca.
rs...pois é...
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