Recarrego a bateria do telefone. Enquanto isso, espero a realidade plausível de Pessoa cair em cima de mim também. Antecipo fatos - não sei como - inauguro atos. Enceno perdas.
É engraçado pensar que a indústria psicofarmacológica vende esse anti-depressivo de nome serenata aos tubos. Ah, se as pessoas soubessem musicar as suas dores, nem precisava nada disso. Enfim.
Difícil pra mim é pactuar com certo modus operandi que só não escancaro porque preciso, eu realmente preciso, aprender a colocar véus no real, que também significa dizer pagar contas no fim do mês. É difícil suportar gente reacionária ditando a saúde dos homens, ou melhor, suas doenças.
Fecho a cortina do quarto. Nublo o tempo aqui, porque essa insistência solar tem me irritado um tanto, há dias, nem queira saber.
Visto aquela camisa cinza mesclado que você odeia e eu adoro por ficar me sentindo atlética, saudável, normal. Mas você não gosta, você não respeita e pergunta para mim se é isso que na minha área chamam melancolia. Sua provocação não vale a minha resposta, então eu te dou o meu silêncio.
Estamos andando por uma orla. Parece Niterói, mas não.
Você me convida para um banho de mar. Está nublado. Depois desses quilos que a doença me subtraiu, já fico mais à vontade com meu corpo e tiro a blusa cinza mescla que você tanto odeia - as mulheres, em geral, são capazes desse tipo de coisa.
Mergulho biquíni colorido.
A praia é estranha porque a borda é um paredão de concreto. Parece um tanque. Veja a minha vida decantada. É um tanque de decantação, esse que se abre. Eu não estou tranquila com o que vejo, você não se importa quando diz que é assim mesmo, que eu nunca estou tranquila, que sou um poço de angústia, que não há no mundo quem suporte.
Percebo as ondas estourarem violentamente a quinze metros de nós, considero.
Eu te pergunto ansiosa o que acontecerá se as ondas se aproximarem a ponto de estourarem em nossas cabeças tal qual a realidade plausível?
Você então me enlaça por trás (conotação erótica) eu fico ainda mais nervosa, afinal já me despi da blusa cinza, mas você quer mais, você quer tudo, você é uma devastação quando me responde sem dor, frio, que se isso da onda ocorrer, é simples, a gente morre.
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