Ato III
Quando eu disse que seu silêncio me desconsertava, você
enrubesceu, não gostou, quis ir embora. Ponderei você ter escutado um
desconcerto no lugar de desconserto, te chamei de volta, olhe, na verdade eu
disse um s e não um c. Desconsertar é bom, mas você não quis saber.
Eu fiz um elogio ao desconserto. Estava sendo bonita no ato
de me deixar invadir por uma música nova, a sua, bobo.
Você não deve ter percebido, entenda, não sou dada a formas
bem delineadas. É uma pegada sombreado a que insiste. Pincel de esfumar que
comprei. Logo eu que pintava com traço firme. Esqueci, gostei de esquecer, no tumulto de uma música
que me atravessou, já faz um tempo, deixa para lá, eu não sei cantar mais.
Essa música me acordava toda... No entanto, existem outras
que ainda lembro e canto baixinho no chuveiro pra não incomodar quem gosta de
afinação, de harmonia, de concerto.
Desconserto
Ato I
Minha mãe me acordava
contando que nós éramos as cantoras do rádio, que levávamos a vida a cantar,
que a noite embalaríamos seu sono e que de manhã iríamos te acordar
tarãrãtãtã... Era colorida essa minha mãe. De flúor.
Qual a música sua mãe
cantava para você?
Ato II
Meu pai também
cantava, acompanhado de violão, a história de um marinheiro, um marinheiro só.
Curioso de quem tinha ensinado a ele. O tombo do navio? O balanço do mar?
Quem te ensinou a
nadar?
Ato IV
Se meu petroleiro
afundar mesmo, vai que afunda, vou me agarrar nessa do marinheiro só com força,
nessa da necessidade que faz o sapo pular, sem deixar para trás a música que me faz acordar e eram desses silêncios
que eu te falava
Todos os silêncios que
me compõem
são feitos desses
silêncios outros que me ofertaram
essas vozes que me
cantavam, me cantam
em quase tudo
onde balanço
seu silêncio vibrando
nos meus
eu danço
(é um tombo que não
mata
é embalo de sono)
eu sonho
em quase tudo
onde balanço
é pai e mãe
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