Cedo me habituei a esperar, sentada sozinha na pia do mármore branco que minha mãe, incansável, ariava. Aprendi a esperar com cara de boneca. Inventar brincadeira com as mãos, entrelaçar os dedos, acompanhar a barra do vestido rosa que ganhei de minha madrinha, contar seus arabescos, recontar, inventar histórias, ser uma rainha amável de um povo já extinto: "Meus bons súditos, onde se encontra o rei?" Aprendi a esperar contando os ladrilhos portugueses, tão coloridos, mas tão coloridos que enjoavam. Aprendi a esperar com bolsa trespassada, espelho espelho meu e gloss. Sentada, sempre sentada na pia fria do mármore até que ele ficasse quente e me acolhesse um pouco mais gentil. Nessa pia aprendi a esperar olhando pela báscula os pardos pardais com suas cores tristes, que de tão sem graça me chamaram a atenção. Para ver beleza no sem graça é preciso tempo e disponibilidade para o amor. Isso também eu aprendi sentada. Aprendi a contar quantos segundos meus olhos suportavam abertos, sem piscar. Aprendi a esperar a limpeza da casa toda, aprendi a deixar o telefone tocar até cair, sem angustiar. Aprendi a esperar lendo as trilhas desenhadas na palma de minhas mãos. Para onde me levariam? Aprendi a esperar vendo as formas que as nuvens, generosas, me ofereciam através da báscula da cozinha, a mesma dos pardais.
Aprendi a fingir esperas para suportar a dor de ser esquecida,
a dor que é se saber entregue ao abandono
Aprendi a fazer do vazio, companhia
com o vazio,
invenção
2 comentarios:
com essa pia toda, não precisa de analista. =*
Quanto mais pia, mais abandono, mais analista alguém pode se tornar. :)
Publicar un comentario