Antes que eu caia no colo do sofá roxo, vou rápida para um banho gelado. Acordar, viver, que a vida tem sido generosa comigo. Esforço de leitura. O tempo cura a vida. Um pouco de tempo só faz querer viver pra ver que esse sofá de que tanto reclamo, me dá colo. Amém.
Parou de ventar, você percebe? O sol resplandece. É tão bonito daqui de onde vejo.
Ontem pintei uma flor. Desenhei o feminino, tal qual suponho, num lilás ingênuo, que o lilás é o roxo atenuado.
Estou deitada agora no colo Dele. Eu agradeço sendo engraçada, fazendo ele rir um pouco. Caixinha de sorriso. Quem me abrir, verá.
O pai que tenho em mim é bom e apazigua essa dor com carinho e olho verde clarinho que toma essa nuance quando me vê. Vê que fiz desse olhar, trampolim. Se emociona do dever cumprido. Ele diz: "Você tem conseguido coisas incríveis. Você é muito bonita, minha filha, e valente".
Pede um neto, meio desconsertado. Uma neta, pra ser mais específica. Sonho todos os dias que sim. Sei que mudarei desse amarelo a que me proponho. Voltar pro castanho clarinho. Química nessas horas, atrapalha.
Pai, qual é o espelho da verdade?
Pai, eu sou livre?
Pai, porque você quis tanto ter uma filha?
Agora sou eu quem faço perguntas sem respostas, porque uma vez ele soube me dar seu silêncio, fingindo que respondia, dizia que se pudesse passaria a vida inteira olhando o mar, não sua revolta, mas seu horizonte infinito.
Esse meu pai transmitia vazios. Maior presente que poderia dar a um filho mulher.
Por que contigências, meu pai, a cor dos meus olhos não são como a dos seus e de meus irmãos?
São olhos bonitos os seus, minha filha. Eles sorriem quando você sorri.
Tanto medo eu tinha de não ter você.
Mas eu tive um pai que me deu silêncio no tumulto dessa angústia excessiva que carrego.
Tive um pai que me deu intervalos de tempo, buracos, essas pausas para respirar de que sou acometida, via escrita.
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