sábado, marzo 19, 2016

A paixão de Cristo e a nossa

Era sexta-feira e a procissão andava pelas ruas. Estava frio em Guaçuí e podia ter sido em Ouro Preto ou em qualquer outro lugar. Os santos seguiam cobertos por panos roxos. O roxo ainda não era a minha cor favorita. A paixão não era ainda minha condição. Eu ia muda de mãos dadas com papai. Eu não entendia o que era a paixão. Perguntei. Ele explicou que paixão era sinônimo de sofrimento. Entendi de uma vez por todas e para sempre. Se hoje cubro meu corpo não mais de verde, isso tem lá suas explicações. O caminho era calmo. Ninguém chorava, mas havia um clima de dor no ar. Aceitei,  que em algum momento da vida, eu cruzaria a fronteira, que Guaçuí era a última cidade antes de Minas, que a roça era minha vizinha, minha herança e meu ponto de estofo. Cresci apaixonada pelo que não tive da cidade. No meu caminho vejo quase sempre a paisagem saudade e hoje as mãos que me levam são as de outro homem. Meu pai ficou na roça para que eu pudesse, anos depois, fazer minha rasura. Aqui permaneço como quem tem uma missão e jamais esquece de onde veio.

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