Hoje escrevendo um texto acadêmico pensei em você. Na sua possibilidade. Os acadêmicos são, normalmente, pessoas aborrecidas com a vida. Meu devaneio foi fuga da realidade, tal qual se descreve em tratados psicopatológicos. Eu precisava de você, João, para avançar em meu exercício. Para tornar ele menos árido. Você me veio, devo confessar, como uma distração urgente, um fôlego, uma pausa.
Pensei em você triste, chorando, sentido com seu pai. Eu tentava te explicar que seu pai te amava, que ele havia se assustado ao te ver em risco e por isso havia falado firme com você.
Eu te explicava que seu pai era muito atento e que via as coisas antes da gente perceber. Eu tentava fazer você entender que seu pai enxergava o perigo logo, porque uma vez ele viu o perigo bem de perto e ficou assim, tipo escoteiro, sempre alerta, mas que ele te amava demais.
Você falou sobre uma tristeza no seu coração, parecia - você dizia - que tinha areia no peito e você pedia pra eu soprar.
Eu te explicava que quando a areia caía no coração não tinha como soprar e que o jeito de você limpar era conversar com o seu pai sobre o jeito que ele falou com você. Explique, para ele - eu te dizia - que você se assustou com o jeito dele, mas que você ficava feliz por ele se preocupar e que era para você dizer que amava muito ele.
Você então ia em direção ao seu pai e parecia que esquecia tudo o que eu havia dito. Você abraçava ele bem forte e chorava muito.
Seu pai respondia o seu abraço te abraçando também e te suspendia no colo, dizendo que te amava, que ver você em risco deixava ele um pouco nervoso. Então você se acalmava e chamava ele para brincar de montar peças de um jogo difícil e masculino.
Eu assistia de longe e entendia o meu papel naquela história. Eu só não entendia como eu pude fazer por você o que não tinham, nunca tinham feito por mim.
Se você voltar em devaneio, em sonho ou mesmo em vida real, João, quero aprender umas coisas com você. Eu, que nunca soube limpar a areia do meu peito.
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